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sexta-feira, 18 de março de 2011

NOVA ESPÉCIE DA MATA ATLÂNTICA

Caminhando pela RPPN Rio das Lontras encontrei um pequeno e estranho mamífero. Não consegui identificá-lo e a foto que tirei não ajudou muito. Só posso garantir que não era um camundongo.

A reportagem abaixo publicada na Folha de São Paulo de hoje me recordou o assunto. 
Foto: Fernando José Pimentel Teixeira/arquivo pessoal

* Nota do blog: Entramos em contato com o pesquisador Alexandre Reis Percequillo, do Departamento de Ciências Biológicas da USP, um dos autores do estudo da reportagem abaixo. Ele gentilmente nos respondeu e - salvo a precária qualidade da imagem que fizemos na RPPN Rio das Lontras - disse parecer "...um marsupial do gênero Monodelphis, um gênero com espécies bem terrestres e semi-fossoriais (organismo adaptado para escavação e vida subterrânea), e cauda curta".
Quem sabe, sabe! 

Trio acha novo roedor que vive nas árvores da mata atlântica

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA

A mata mais estudada (e mais devastada) do Brasil ainda abriga várias espécies desconhecidas, mas é provável que poucas sejam tão enigmáticas quanto um certo roedor de pelagem densa.

Não é exagero chamar o Drymoreomys albimaculatus, recém-descoberto habitante da mata atlântica, de náufrago evolutivo. Segundo biólogos, a espécie mais aparentada ao bicho vive... num vale árido dos Andes peruanos, sabe-se lá o porquê.

O estudo descrevendo a nova espécie saiu recentemente na revista científica "Zoological Journal of the Linnean Society". É uma amostra de que as surpresas da floresta que um dia dominou a costa brasileira ainda estão longe de terminar.

"Esse resultado realmente foi muito estranho", confessa Alexandre Reis Percequillo, do Departamento de Ciências Biológicas da USP de Piracicaba. "Talvez o fato de que ambos os bichos pertençam a grupos montanos [típicos de áreas montanhosas] ajude a explicar esse padrão, mas é cedo para dizer."

Percequillo é um dos autores da certidão de nascimento científica do bicho, ao lado de Marcelo Weksler, do Museu Americano de História Natural, e Leonora Costa, da Universidade Federal do Espírito Santo. Paradoxalmente, ele nunca viu o bicho vivo.

"Participei de uma das coletas, na qual um só exemplar foi capturado, mas quando cheguei ele já estava morto", conta Percequillo.

Foto: Thomas Püttker/Divulgação
Patas do roedor possuem "almofadas" que o ajudam a se prender aos galhos onde se pendura


O método mais usado para a captura envolve um balde enterrado no chão da floresta, dentro do qual o bicho acaba caindo.

Alguns animais são marcados para acompanhamento futuro, enquanto outros são sacrificados com uma overdose de anestésico e vão para as coleções zoológicas dos museus.

Foram essas coleções, com exemplares coletados nas últimas duas décadas, junto com análises de DNA, que permitiram comprovar o pedigree único do bichinho.

Tanto é assim que os biólogos precisaram criar não só um nome de espécie, mas também um de gênero novo para batizá-lo. (O gênero é o "primeiro nome" de um animal, formando um grupo mais abrangente que o de espécie. Leões e onças, por exemplo, são ambos do gênero Panthera.)

Sabe-se pouco sobre o bicho, apesar de algumas pistas vindas de sua anatomia.

A palma das patinhas e o espaço entre os dedos, por exemplo, possuem "almofadas" que ajudam o animal a manipular com mais sensibilidade os galhos nos quais fica dependurado.

Já o pênis dos machos carrega glândulas que produziriam uma secreção viscosa, formando o chamado plugue copulatório. É um cinto de castidade, feito para impedir que a fêmea acabe cruzando com machos rivais.

Por enquanto, há registros da espécie na Serra do Mar, em São Paulo e Santa Catarina. Não dá para dizer se ela corre perigo de extinção.

Fonte: Folha Ciência