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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ARANHA CARANGUEJEIRA

Ela apareceu em casa de maneira silenciosa e o mais discreta possível.

Provavelmente em fuga de um terreno que estava sendo arado próximo a nossa residência. Boa parte de seu abdômen estava sem pelos, possivelmente indicando que ela os usou devido a algum estresse.

Simpática e nada agressiva, foi devidamente encaminhada por nós para um terreno cheio de árvores.

Com uma fama desmerecida e incorreta, é inofensiva aos humanos (veja dados abaixo).

Com sorte, ela pode viver mais de uma década. Boa sorte, amiguinha. Tomara siga em paz.

Ordem: Araneae
Infraordem: Mygalomorphae
Família: Theraphosidae
Nome popular: Aranha caranguejeira
Nome em inglês: Tarântula
Nome científico: Lasiodora sp.
Distribuição geográfica: Este gênero ocorre em países da América Central e América do Sul
Habitat: Florestas tropicais até regiões áridas
Hábitos alimentares: Carnívoro
Reprodução: Não foi encontrado registro
Período de vida: Em média de 10 a 15 anos em cativeiro

Olhando para esta caranguejeira acima, quem não sentiria uma leve repulsa? Ainda mais se lembrarmos dos mitos e dos traumatizantes filmes que passam na TV sobre as terríveis aranhas assassinas e devoradoras de gente. Pois bem, esqueça tudo isso por um momento e tente se concentrar!

Esta aranha bastante peluda e de porte avantajado, podendo medir até 20 cm de comprimento, não tem o porquê de causar tamanho pavor, afinal são animais tímidos (que vivem escondidos), geralmente inofensivos e indispensáveis no equilíbrio da vida no planeta, pois, sendo um predador, controlam populações de diversos animais.

As caranguejeiras são também conhecidas como tarântulas, nome popular que teve origem a partir de uma lenda italiana a qual as pessoas que eram picadas por estas aranhas teriam que dançar uma música, a tarantela, para sobreviverem ao veneno. No Brasil, as tarântulas são conhecidas como aranhas de jardim que são bem diferentes das caranguejeiras.

As aranhas não são insetos! Apesar de possuírem exoesqueleto (esqueleto externo), possuem 4 pares de pernas e uma estrutura corporal dividida em duas partes: cefalotórax e abdome. Já os insetos possuem 3 pares de pernas e o corpo dividido em três partes: cabeça, tórax e abdome.

Dentre os aracnídeos, as aranhas são as únicas que possuem fiandeiras, estruturas especializadas na fabricação de seda utilizada, de modo geral, na captura e imobilização das presas.

Para auxiliar na imobilização das presas, as aranhas desenvolveram glândulas especializadas na produção de veneno e estruturas capazes de inoculá-lo. Nas caranguejeiras, este veneno só possui atividade em suas presas, sendo inativo no homem.

Os pêlos existentes nesta caranguejeira possuem ação urticante, sendo utilizados contra possíveis predadores, podendo causar uma reação alérgica no homem. Quando ameaçadas, raspam suas pernas no abdome liberando-os uma única vez. Estes pêlos não regeneram e só irão aparecer na próxima troca de pele (ecdise).

A ecdise é um processo natural no crescimento destes animais. Neste período elas não caçam, permanecem escondidas, tornando-se menos ativas, pois a nova pele ainda é frágil e mais vulnerável a predação.

As aranhas trocam de pele até atingir a maturidade sexual. Até esta fase, não é possível diferenciar macho e fêmea. No período reprodutivo, após o acasalamento as fêmeas envolvem seus ovos em seda (ooteca) e permanecem com ela até o nascimento dos filhotes.

As caranguejeiras possuem hábitos noturnos alimentando-se de insetos, pequenos répteis, anfíbios e algumas espécies podem se alimentar de filhotes de pássaros. Vivem normalmente em tocas forradas com seda debaixo de pedras ou nas copas das árvores.

Dentre as caranguejeiras, as espécies amazônicas são extremamente atrativas sendo bastante apreciadas por algumas populações indígenas (tribo Piaroá) e consideradas um prato fino. Pelo fato de possuírem coloração vistosa e tamanho avantajado, são extremamente visadas pelo comércio ilegal. Além disso, a exploração acelerada do ambiente natural promovida pela ação humana ameaça ainda mais estes animais tão importantes e tão pouco estudados.

Fonte: Fundação Parque Zoológico de São Paulo
Setor de Répteis
Juliana Bettini Verdiani - Bióloga aprimoranda


Fotos: Fernando José Pimentel Teixeira/arquivo RPPN Rio das Lontras