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terça-feira, 23 de novembro de 2010

LONTRA NA CHAPADA DOS VEADEIROS

Mais notícias e fotos do Claudio e sua Expedição conhecendo comunidades alternativas e Unidades de Conservação Brasil afora. De quebra ele gentilmente manda registros usando a camiseta da RPPN Rio das Lontras em locais absolutamente deslumbrantes!
Leia relatos abaixo:

Fui levar a Lontra pra passear. Ontem vim pra São Jorge, vilarejo a 40km de Alto Paraíso, na entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Até os anos 90, o lugar era uma vila de garimpeiros, isolada de tudo. A partir daí, por pressão de órgãos de defesa ambiental, os garimpos foram fechados e o povo começou a explorar a onda do turismo ecológico e dos esportes radicais. Pousadas brotaram feito cogumelos depois da chuva e os garimpeiros viraram guias turísticos.

Hoje fui conhecer o parque. Só é permitida visita com guia, então me juntei a duas turistas paulistanas e uma guia pra fazer uma das trilhas, a das cachoeiras. Foram quase 5km de caminhada até a baixada do Rio Preto. Esse rio atravessa o parque, contorna os morros da chapada e vai desaguar no Tocantins depois de andar mais um trecho. Vale dizer: se a gente soltar um barquinho de papel aqui, daqui há uns dias ele vai bater lá no Amazonas...

Ao final da trilha, deleite: duas lindas cachoeiras que eles chamam de Saltos do Garimpão 1 e 2. A primeira, mais abaixo, tem 120m de altura; a outra, morro acima, é um pouco menor, 80m, mas também é portentosa e forma um enorme poção. Com a chuva que tem caído, o rio está alto e as duas cachoeiras derrubam muita água, dá gosto de ver.

A beirada do rio fervilha de piabinhas miúdas. Acostumadas a ganhar pedaços de pão dos visitantes, elas perseguem qualquer um que entrar na água. A gente vai andando e elas enxameiam em volta. Uma mais atrevida até arriscou me dar uma mordida enquanto eu boiava mas pelo jeito o sabor não lhe apeteceu.

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Agora em setembro um incêndio brabo comeu quase toda a mata do parque, quem acompanhou noticiário deve lembrar. O lugar ficou fechado por um mês e só reabriu há duas semanas. O cheiro de queimado ainda está no ar e os caules carbonizados por toda parte mostram o tamanho do estrago feito. Mas acaba que o mais impressionante mesmo é a rapidez com que o verde brota logo que chove.

O parque foi criado em 1961 pelo JK. Tinha 650 mil hectares que foram sendo engolidos por novas leis criadas pelos políticos-fazendeiros do Cerrado. Por fim, sobraram os atuais 65 mil hectares, dez por cento do original.






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Parece que até os anos 90 a região era mesmo muito isolada e preservava antigas tradições e jeitos de ser. Alguns sinais disso a gente vê na fala dos mais velhos. Por exemplo, “muito” aqui é pronunciado sem aquele som nasal que a gente usa (muiNto), eles dizem “muitcho” como no português arcaico, puxando pro castelhano, pro galego. Outro sinal de antigos tempos: as capelas dos povoados do entorno, o da Capela, o da Ponte do Rio Preto, poucas vezes por ano recebem padres. O povo mesmo organiza suas rezas – que ainda são em latim.

Fotos e texto: Claudio César Pimentel Teixeira