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sexta-feira, 16 de maio de 2008

O dia em que Lula rifou Marina Silva



Deu em O Globo
O dia em que Lula rifou Marina Silva

De Míriam Leitão:

A Amazônia entrou agora no período do abate das árvores. De maio a julho, é o auge do desmatamento. Depois virá o tempo do fogo; de agosto a outubro. Época perigosa para a mudança de ministro do Meio Ambiente. O presidente Lula procura em Carlos Minc a rapidez das licenças ambientais. Minc precisa ter na equipe quem entenda de Amazônia. Há números ruins rondando. Uma palavra selou a saída da ex-ministra.

A ministra Marina Silva engoliu a seco. Nem quem estava do seu lado percebeu que, naquele exato momento, ela decidiu sair do governo. Foi na reunião no Palácio do Planalto, na quinta-feira, dia 8. Discutia-se um conjunto de medidas chamado Arco Verde e o Plano Amazônia Sustentável. Marina enfrentou críticas na reunião, mas uma frase do presidente foi definitiva:

— Então o importante é que tenha alguém isento para tocar esse plano. A Marina não é isenta; o Stephanes não é isento. Por isso, será o Mangabeira Unger.

A reunião foi toda estranha. Mangabeira entrou em silêncio e nada falou. Já sabia que ganhara a briga. Reinhold Stephanes, da Agricultura, ficou em silêncio. Geddel Vieira Lima, da Integração, chegou atrasado. Marina apresentou o “Arco Verde”, um plano para completar o trabalho da Arco de Fogo. Nela tinha desde proposta de ajuda aos desempregados a incentivos à atividade econômica. Os governadores reclamaram. Ana Julia Carepa, do Pará, disse que era pouco. O governador Blairo Maggi viu Marina sozinha e atacou:

— Marina é uma locomotiva: deixa terra arrasada onde passa!

Seria melhor que Blairo dissesse isso dele mesmo. Os dados sobre Mato Grosso são assustadores. Só no último semestre do ano passado, foram detectados 23 mil km² de incêndio no estado.

Reuniões tensas sobre meio ambiente são corriqueiras, mas o que pesou naquela foi o fato de que o presidente disse, na frente de todos, que achava que sua ministra do Meio Ambiente não era isenta para comandar um plano na Amazônia. Ela ouviu, então, de um amigo próximo:

— Você não está acumulando mais capital, está só perdendo.

* Miriam Leitão é jornalista e proprietária junto com Sérgio Abranches da RPPN Brejo Novo, em Santos Dumont, MG.