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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Os Jacarés de Floripa


Jacaré no asfalto

Fernanda Martorano Menegotto*

07.02.2008

Todos os dias, lá estão eles. Encobertos pela água até os olhos ou caminhando lentamente sobre a mata enlameada a procura de alimento. A vendedora Luciana Vaz avista sem dificuldade o movimento da família de jacarés do papo-amarelo por um córrego às margens da Avenida Beira-Mar Norte, área nobre de Florianópolis. Os novos visitantes passam em frente ao shopping em que ela trabalha. “Toda vez que os bichinhos aparecem para tomar sol é uma festa”, conta. Verdade seja dita: apenas os desavisados deixam de perceber esses animais de quase dois metros de comprimento.

Os jacarés do papo-amarelo são nativos das florestas tropicais da América do Sul. Conhecida cientificamente por Caiman latirostris, a espécie consta na lista do Ibama dos ameaçados de extinção. Rodeada por mangues e pela vegetação de restinga, a Ilha de Santa Catarina abriga uma pequena população. O ponto é que, nos últimos anos, os animais ficaram mais visíveis ao homem com o crescimento urbano sobre as áreas naturais remanescentes de manguezal e restinga. Não por acaso a construção do shopping na Beira-Mar Norte sofreu represália durante meses seguidos, foi objeto de um extenso embate judicial. O Ministério Público havia solicitado o embargo das obras por entender que eram executadas em áreas de proteção permanente. “Houve nessa época todo um questionamento, já que a região está no limite entre manguezal e banhado salino. O projeto só vingou depois de modificações e novos estudos. A área de mangue liberada para construir já era descaracterizada.”, conta o biólogo João Medeiros. Hoje, os jacarés encontrados nas redondezas do centro comercial circulam pelos trechos preservados entre o Parque do Manguezal do Itacorubi e o Parque do Jacaré.

Mas a devastação no entorno é cada vez maior. Os cerca de oitenta mil moradores da Bacia do Itacorubi sentem os efeitos da degradação sistemática do manguezal. “As valas ficam entupidas de barro e lixo, o que aumenta o risco de enchentes”, diz o presidente da Associação dos Moradores do Bairro de Santa Mônica, Ênio Lima. A Câmara dos Vereadores está discutindo uma moratória para novas construções em toda a Bacia do Itacorubi, na esteira dos debates de um novo Plano Diretor. Um morador que preferiu não se identificar desabafa: “O mangue vai morrer e ninguém faz nada”. A Floram, órgão ambiental do município, informou através da assessoria que os fiscais já estão monitorando o problema e também apostam na ação integrada da sociedade. O professor da UFSC critica a gestão da Floram. “Deixa a desejar. Há muito trabalho por fazer, a começar pelas unidades de conservação. Estão fora dos padrões da legislação”.

De shopping a clube de elite

A boa notícia é que pelo menos os jacarés conseguem resistir a lixo e esgoto. “A espécie tem uma capacidade de adaptação espetacular, ao contrário de outras”. Por isso, aparecem em todas as zonas de mangue e restinga da cidade. Há pouco tempo um deles mergulhou no açude de um clube de Jurerê Internacional, no lado oposto da ilha. “O bicho deve ter saído do mangue e entrou na água. A turma ficou apavorada”, conta Apoena Figueroa, agrônomo e chefe da Estação Ecológica de Carijós. O especialista ressalta que a existe muito desconhecimento em relação ao animal. “As pessoas acham que ele é do capeta e sai mordendo gente. E não é nada disso”, pondera. O jacaré-do-papo-amarelo tem um comportamento defensivo e procura se afastar na presença do homem. Cabe aos curiosos estabelecer limites. "Não dá para mexer com a fêmea quando ela está cuidando dos ninhos. Atacar só será uma atitude de proteção". Dar comida também não pode. "O jacaré nunca come quando está chocando. Alimentá-lo vai fazer com que se acomode e não busque comida para os filhotes. Muitos acabam morrendo por causa disso”.

Na praia da Daniela, os moradores já se acostumaram a encontrar um jacaré no quintal, na calçada e até dentro de casa. A ‘jacaroa’ Zenóbia não assusta mais ninguém quando resolve andar calmamente pelo asfalto. Célio de Luca vive há anos na região e gosta da companhia. “Ela não machuca ninguém”, diz. A mulher dele, Tânia, nem tanto - jura que a Zenóbia engoliu o cachorro dela.

Mas o que explica, de fato, tantos jacarés à vista? Para João Medeiros eles ocupam o mesmo lugar de sempre na cidade. "Foi o homem que invadiu a zona do jacaré. Andar, pegar sol, sair do mangue? Ele sempre fez isso". O biólogo ainda constatou uma mudança de comportamento decisiva para a manutenção da espécie. "Anos atrás, as pessoas matavam o animalzinho. Hoje em dia a postura é diferente. Ninguém sai matando". De todo jeito, os ambientalistas reforçam as preocupações. Medeiros faz um apelo para medidas longo de prazo. "A cidade continua se expandindo, mesmo com uma série de problemas de alternamento urbano. Não só os jacarés, mas as áreas mais sensíveis vão sofrer os efeitos da ocupação desordenada.”


* Fernanda Menegotto nasceu em Florianópolis e é jornalista no Rio de Janeiro.

FONTE: O ECO

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

RPPN em Buriti dos Cavalos

Inscrições rupestres em Buriti dos Cavalos


Reunião define novo destino turístico no Piauí

O secretário estadual do Turismo (Setur), Sílvio Leite, e o presidente da Empresa de Turismo do Piauí (Piemtur), Patrocínio Paes Landim, comandaram em Piripiri, na tarde desta sexta-feira (08), reunião fundamental à criação de mais um destino turístico promissor para o Estado. Trata-se do Buriti dos Cavalos, uma propriedade particular na zona rural de Piripiri (165 quilômetros ao norte de Teresina) repleta de exuberantes formações rochosas, sítios arqueológicos com vasto material rupestre, riachos, cachoeiras e trilhas perfeitas para turismo de aventura e prática de esportes radicais.

A reunião ocorreu no auditório do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), no Perímetro Irrigado Caldeirão, com a participação de representantes de órgãos dos governos federal e estadual, como do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), DNOCS, Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Instituto de Assistência e Previdência do Estado do Piauí (Iapep), Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Secretaria Estadual da Educação e Cultura (Seduc), além de militantes ecológicos, profissionais de imprensa e proprietários da área.

“Com tanta variedade natural, esse lugar pode ser considerado um shopping ecológico”, descreveu o secretário Sílvio Leite, que conheceu o local em setembro do ano passado, a convite da Prefeitura do município. Desde então, vem - juntamente com o presidente da Piemtur - arregimentando parceiros no Governo Federal, iniciativa privada, organizações não-governamentais (ONGs) e familiares da propriedade, com vistas à criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).

A RPPN é uma modalidade de Unidade de Conservação Nacional (UCN) na qual o proprietário decide sua forma de exploração e delimita a área a ser englobada para atividades educacionais, esportivas, culturais, turísticas, estudos científicos e, principalmente, cria alternativas de utilização econômica, considerando irreversivelmente as normas e regras específicas ditadas pela legislação ambiental. O ecoturismo é, invariavelmente, a alternativa mais vantajosa para ser trabalhada nesse tipo de UCN. Entre outras vantagens, uma RPPN, além de congregar esforços de conservação da natureza, permite aos proprietários a elaboração de projetos com autorização do órgão ambiental competente e concessão de créditos para investimentos.

A intenção de transformar Buriti dos Cavalos em uma UCN existe desde a primeira metade da década de 1990. Naquela época, a Fundação Ecológica de Piripiri (Funep), presidida pelo ambientalista Pádua Rodrigues, fez um levantamento de área, divulgou o patrimônio geológico e deu o pontapé inicial. A ação concreta, porém, ocorreu em setembro do ano passado, quando o Sílvio Leite esteve no local, acompanhado do engenheiro Geraldo Lustosa, da Prefeitura de Piripiri.

Na reunião, o secretário manteve contato com o proprietário do Buriti dos Cavalos, Tomás Pinto do Nascimento - juntamente com seus familiares - repassando orientações e oferecendo a logística da Setur e da Piemtur para a formulação de um projeto de criação da RPPN. Nesse período, Sílvio Leite e Patrocínio Landim procuraram apoio do BNB e do Ibama para, respectivamente, acertar sua participação no suporte financeiro e legal do projeto.

“Esses dois órgãos do Governo Federal estão sendo parceiros fundamentais à consecução desse grande investimento turístico para Piripiri”, comentou Sílvio Leite, ressaltando que nunca uma ação fora desenvolvida com tanta agilidade desde o dia em que assumiu a pasta do Turismo, no ano passado. Ele se referiu ao fato de a família Pinto do Nascimento já ter criado, em apenas quatro meses, a Associação de Produção em Agroecologia Familiar Buriti dos Cavalos, e encaminhado ao Instituto Chico Mendes projeto de criação da RPPN.

O superintendente do Ibama e responsável pelo Instituto Chico Mendes no Piauí, Romildo Mafra, esteve presente à reunião e afirmou que vai dar toda a celeridade ao processo de implantação da RPPN no Buriti dos Cavalos. Também participou do encontro o superintendente regional do BNB, Agostinho Neto. Ele disse que o banco acompanha as discussões através da equipe de Piripiri e superintendência regional, e, no momento oportuno, vai disponibilizar, na forma da lei, as linhas de financiamento compatíveis ao empreendimento, dentre as quais, o Pronaf (Programa Nacional de Agricultura Familiar) e Proatur (Programa de Apoio ao Turismo).

Fonte: Canal 13
Foto: Portal O Dia

Nota do Blog: Vale sempre lembrar que a Legislação prevê que as RPPN são consideradas - de fato - unidades de conservação de uso indireto, ou de proteção integral, cujo maior objetivo é conservar a diversidade biológica. Como essas áreas têm como objetivo "a proteção dos recursos ambientais representativos da região", as atividades que ali podem ser desenvolvidas devem ter "cunho científico, cultural, educacional, recreativo e de lazer. As restrições de uso visam assegurar a conservação do meio ambiente na área.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Diz aí Sr. Presidente



E o nosso Presidente Lula disse que os plantadores de soja, pecuaristas e sem-terra não são os culpados do desmatamento da Amazônia.
E mais: "...é apenas uma coceira".

"A gente não pode culpar soja, feijão, gado, sem-terra, não pode culpar ninguém antes de a gente investigar o que aconteceu” - Lula questionando análises da própria Ministra Marina Silva.

Então fica a pergunta: De quem é a culpa então Sr. Presidente?


Caricatura: Baptistão.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Chuvas em Santa Catarina

Impressionante imagem da quantidade de água numa cachoeira em Joinville, norte do estado. Foto: Cléber Gomes.

Foram praticamente três semanas de chuvas contínuas. Até que no último dia de janeiro a coisa apertou e choveu mais intensamente em toda a Grande Florianópolis e litoral catarinense. O resultado foi catastrófico: deslizamentos, alagamentos, desabrigados, destruição.

Em Angelina ficamos sem energia elétrica por horas. Telefone idem. Barreiras caíram. As estradas ficaram interditadas para todos os lados e os moradores ficaram ao menos um dia inteiro ilhados. Não havia saída da cidade. A retransmissora da RBS TV (Globo) saiu do ar por queda de postes.

Saímos de casa apenas no dia seguinte e o que vimos foi muito triste: encostas inteiras desabaram, criando línguas de devastação em meio as matas. Uma obra absurda de terraplanagem - que tinha sido embargada pela Polícia Ambiental e ainda assim foi finalizada -acabou ocasionando no centro da cidade um deslizamento que condenou ao menos duas casas e criou desabrigados de uma hora para outra. Prejuízos por todos os lados.


Imagem do DC mostra perdas em Brusque. Mas notem a mata atrás e a encosta mexida: Mais que previsível! Foto: Gilmar de Souza.

O pior disso tudo é sabermos que tudo era evitável. Se a ganância e ignorância humana não construísse ao lado dos rios, não houvesse supressão da mata ciliar e obras estúpidas que removem morros, aterram córregos, desviam cursos d'água, criam erosões e assoreamento nos rios.

Assista abaixo matéria da RBS TV mostrando os estragos na capital catarinense as vésperas do carnaval. E lá vai o povo beber, pular e dançar como todos os anos.

Veja aqui imagens dos estragos das chuvas