Páginas

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

PITACOS DAS LONTRAS

Lontras na cachoeira da divisa entre as cidades de Angelina e Rancho Queimado. Bem na hora do clique programado caiu uma gostosa chuva de verão.

ENTREVISTA QUE CONCEDEMOS AO SITE RPPN WEB DO INSTITUTO CHICO MENDES:

Como você conheceu as RPPN?
Assistindo um programa de tv que falava sobre a proteção da biodiversidade. Foi daí que nasceu a vontade de vendermos nossa casa em Floripa, comprarmos uma área preservada e transformá-la em RPPN.

Ao criar a RPPN, quais eram seus principais objetivos?
Contribuirmos para a preservação do meio ambiente e com as gerações futuras. Fazermos nossa parte, mesmo sabendo que é uma gota no oceano, para que nossos filhos e herdeiros do planeta Fernanda e Tom possam ter a oportunidade de uma proximidade maior com a natureza.

Quais foram os incentivos que levaram você a criar uma RPPN?
A convicção de ser uma proteção prevista em Lei, em caráter perpétuo.

São desenvolvidas atividades econômicas na sua RPPN? Quais?
É sabido que toda Unidade de Conservação precisa ter seu Plano de Manejo para nortear suas atividades. O nosso Plano de Manejo acaba de ser aprovado pelo Instituto Chico Mendes e a meta é a partir de agora buscar recursos para sua implementação, assim como para a construção de uma sede e das primeiras benfeitorias na área. No momento, a única receita proveniente da RPPN Rio das Lontras é externa, com a venda de camisetas feitas com tecido ecológico, de garrafas pet recicladas e estampada com a já famosa logomarca criada e desenhada pelo genial cartunista e escritor Ziraldo.

...vale citar uma famosa frase da Dra. Sonia Wiedmann: “É muito mais fácil encontrar Deus numa RPPN do que num templo erguido pelo homem...”

Que atividades você gostaria de realizar em sua RPPN?
Educação ambiental consideramos algo essencial. Temos uma paixão especial por pesquisas, que especialmente nos motiva muito.

Sua RPPN possui plano de manejo?
Sim, o realizamos em 2009. Foi devidamente aprovado e aguardamos para os próximos dias a publicação no Diário Oficial da União. É a primeira RPPN de Santa Catarina com Plano de Manejo. Aliás, segundo informações do Instituto Chico Mendes, apenas três RPPNs da Mata Atlântica já tiveram seus Planos de Manejo aprovados depois da criação do Roteiro Metodológico. Então, cremos, é algo para comemorarmos com entusiasmo.

Existe algum levantamento ou estudo realizado em sua RPPN? Quais?
Realizamos estudos da fauna: biota aquática; ictiofauna; herptofauna; avifauna e mastofauna.
Na área da vegetação foi feito o Inventário Florístico e Florestal.
E ainda foi pesquisado o sócio-econômico da região para a caracterização da área do entorno.
Também houve levantamento dos aspectos históricos e culturais, hidrografia, geologia, etc.

A sua RPPN recebe apoio de alguma instituição? Como você conseguiu tal apoio?
Para o Plano de Manejo concorremos e obtivemos apoio do Programa de Incentivo às RPPNs da Mata Atlântica (da ONG Aliança para Conservação da Mata Atlântica, uma parceria entre as ONGs Conservação Internacional, Fundação SOS Mata Atlântica e The Nature Conservancy). Também batalhamos e conseguimos firmar parcerias e cooperação técnica com as empresas Prosul e Tigrinus Equipamentos para Pesquisa e ainda com o Parque Nacional da Serra do Itajaí e com a Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.
Tem que ser insistente, ter qualidade e embasamento nos projetos. Em se tratando da importância da criação de uma RPPN, um Patrimônio Natural que gera inúmeros benefícios para a sociedade, deveria haver mais facilidade aos proprietários. A atuação voluntária e a garra dos proprietários de RPPNs não podem ser justificativas para caminharem solitários, sem ajuda do estado e da iniciativa privada, ficando por sua própria conta – e risco!

“No dia 21 de setembro de 2007, Dia da Árvore, lançamos no blog da RPPN Rio das Lontras a idéia da criação do Dia da RPPN!”

Que tipo de apoio você gostaria de receber para garantir a implementação e manutenção de sua RPPN?
Muito provavelmente o Brasil terá a milésima RPPN ainda em 2010. Para esse universo multifacetado, de áreas protegidas por iniciativa de proprietários distintos, cada um com sua história própria, recursos e intenções, nos mais diversos biomas e características regionais, é necessário haver muito, mas muito mais mecanismos de apoio.
Obviamente o ideal é que esse apoio case com os objetivos da RPPN e que a fonte tenha a consciência da real necessidade das áreas protegidas, das ações que garantam um planeta mais justo e equilibrado, social e ambientalmente.
Precisa haver mais e melhores mecanismos de apoio às RPPNs, menos burocracia, menos cobrança e mais facilidade de acesso aos recursos.
E como diz a própria pergunta, garantir a implementação e manutenção da RPPN.

Qual a principal dificuldade em manter a sua RPPN?
Levando-se em conta que a RPPN é uma “pessoa física” e não uma instituição jurídica, é muito complicado buscar recursos. A RPPN não sendo empresa e não tendo uma ONG atuando em conjunto, tem que tirar leite de pedra para sobreviver. É desejável que a RPPN, no nosso entender, deva ter a opção de ser uma instituição mais eficiente e independente e assim caminhar com as próprias pernas.
Um problema muito comum as RPPNs e que também nos atinge é a manutenção da estrada de acesso para a RPPN, um caso sério! A prefeitura promete faz anos arrumá-la e já gastamos uma pequena fortuna em sua manutenção. E atualmente só se chega com um carro 4x4 e olhe lá!
Por isso a importância da RPPN ser cada vez mais forte como instituição, para que as prefeituras sejam verdadeiras parceiras e tenham a noção da significância de ter uma RPPN em seu território. Uma empresa que se instala no município vai gerar empregos e renda até quando ela existir ou se mudar dali. Por sua vez, uma RPPN é para sempre!
Vale citar aos prefeitos uma frase sempre falada pela presidenciável Marina Silva: “...que entendam que o Meio Ambiente não pode ser visto como algo separado das demais atividades!”.

Quais as principais ameaças à integridade da RPPN? Na sua opinião, porque isso ocorre?
Vários: O projeto de seis Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) na nossa bacia hidrográfica, sendo que um deles ameaça secar todo o trecho de rio que passa pela nossa RPPN, comprometendo mais de 85 metros de quedas e a cachoeira que é uma das nossas maiores belezas cênicas e que certamente influencia toda a dinâmica do ecossistema local, criando um micro-clima e lar das Lontras, nosso animal símbolo.
Há também a atual “febre” entre os colonos da região – conhecida historicamente como a “primeira colônia alemã de Santa Catarina” – a construção de enormes Granjas de frangos para corte. Mas o “resumo da ópera” é a total falta de uma consciência ecológica da maior parte da sociedade, gerando um comportamento irresponsável, consumidor, predador, com desmatamentos, uso indiscriminado de agrotóxicos, caça, poluição, políticas equivocadas e de cunho imediatista.
A fiscalização ineficiente e o não cumprimento das Leis é algo que compromete muito. Temos na maior parte das vezes em pensar nos nossos problemas e mais ainda no que acontece a nossa volta. A natureza não se restringe à área da RPPN. Acabamos tendo que nos mobilizar por ações que, em tese, deveria ser feita pelo Poder Público. Muitas vezes o caminho é recorrer sempre à última instância, o Ministério Público.

Você criaria outra RPPN? Porque?
Acreditamos que sim (risadas). Certamente de maneira mais tranqüila por sabermos os caminhos a serem percorridos, já que depois que a picada foi aberta fica mais fácil seguir a trilha. E vale citar uma já famosa frase da Dra. Sonia Wiedmann, que foi Procuradora do Ibama por 32 anos e é conhecida como a “Mãe das RPPNs”: “É muito mais fácil encontrar Deus numa RPPN do que num templo erguido pelo homem...”

“...como sempre diz o Beto Mesquita: “RPPN é uma só!””

Você atua em alguma entidade ou associação ligada as RPPN?
Muitos pensam que a “marca” RPPN Rio das Lontras é uma ONG. Mandam até currículos pedindo emprego. Mas não, somos pessoa física. E só!

Alguma observação que gostaria de comentar?
No dia 21 de setembro de 2007, Dia da Árvore, lançamos no blog da RPPN Rio das Lontras a idéia da criação do "Dia da RPPN"! O tema foi colocado em pauta novamente, tomara logo possamos dar esse grande passo, que vai ser um marco para o movimento.
O objetivo é que a data comemorativa possa representar todo o esforço empregado por todas as pessoas - na sua maioria heróis anônimos - que se dedicam à causa das Reservas Particulares e na busca da preservação da biodiversidade e de um planeta minimamente mais equilibrado. E ainda uma forma de divulgação e fortalecimento institucional das RPPNs.
Também vai ser interessante ter uma logomarca própria, um design que crie uma identificação imediata das RPPNs, sejam as criadas na esfera federal, estadual ou municipal – pois, como sempre diz o sensato ambientalista Beto Mesquita: “RPPN é uma só!”.
Quanto mais conhecido for o nome RPPN, mais portas serão abertas! A iniciativa privada e as Instituições Públicas - em especial as Prefeituras Municipais - poderão ser mais conscientes da importância de uma Unidade de Conservação no município e terem mais cumplicidade, que sejam parceiras fieis, cooperadoras íntimas e comprometidas com a RPPN e com a questão ambiental. O nome RPPN vai ficar mais em evidência e isso é bom e desejável.
Outro projeto que torcermos para ser implantado no Brasil é o “Herdeiros do Planeta”, um lindo programa de conscientização das futuras gerações, um melhor rumo para a nau humana.
Para terminar, citamos o maestro maior Tom Jobim: “...escuta o mato crescer”!

O que você achou sobre a implantação do site?
Uma bela e necessária iniciativa para divulgar, informar e incentivar a criação de novas RPPNs nos mais variados biomas Brasil afora. RPPN não é para todos, tem que ter um perfil próprio para isso. Quanto mais disponibilizar informações, melhor será!
Longa vida ao site, que seja tão perpétuo quanto as RPPNs!