Fernando e Chris sempre estiveram envolvidos na defesa do meio ambiente e para contribuírem de maneira mais efetiva com a causa adquiriram uma magnífica área preservada de Mata Atlântica próxima a Florianópolis, criando ali uma Unidade de Conservação em caráter perpétuo, uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, a RPPN Rio das Lontras.
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Ouriço -cacheiro
Dia desses indo até a RPPN Rio das Lontras percebi uma movimentação em um pasto bem ao lado da estrada. Eram vários quero-queros fazendo uma enorme algazarra e logo percebi um animal em meio a grama.
De cara vi que era um ouriço-cacheiro, um animal que ainda não tinha encontrado.
Que felicidade! Passei a mão na única câmera fotográfica que tinha dentro da mochila no banco de trás do carro, uma arcaica yashica automática com filme asa 200. Nada mais simples que isso, mas o suficiente para eu poder registrar esse encontro inédito e inusitado, pois não era local e nem hora para encontrar um animal de hábito crepuscular e noturno.
Difícil foi conseguir uma imagem de frente dele, pois ele insistia em tentar se defender usando suas armas, virando-se de costas e "ouriçando" os espinhos.
Fui embora quando acabou o filme e deixei-o seguir caminho em paz - ou quase, pois mais de uma dúzia de quero-queros continuaram a protestar até ele entrar no capoeirão próximo.
Fui pesquisar na internet e muito pouca informação há disponível. Recorri então ao livro Mamíferos de Santa Catarina, da bióloga Ana Verônica Cimardi, que transcrevemos abaixo.
Ouriço-cacheiro
Coendou insidiosus
Família Erethizontidae
Descrição – É um animal com características peculiares, apresentando as partes superiores do corpo cobertas por espinhos. Há uma grande variedade de pelame entre as populações desta espécie. Em Santa Catarina os espécimens têm os pêlos de coloração marrom-escura com a ponta amarelada. Os espinhos são pretos com a ponta amarelo-ouro e mais longos na linha dorsal, chegam a medir 6cm. A região ventral é mais clara que a dorsal e não possui espinhos. As vibrissas são longas, pretas a partir da base, ficando mais claras em direção a ponta. Os membros que são curtos, possuem 4 dedos munidos de unhas grandes e curvas. A cauda é comprida e preênsil, tendo a parte anterior espinhosa e posterior com pêlos de coloração preta. Mede de comprimento total 50 a 90cm e pesa de 1,5 a 2,0kg.
Habitat – Vive exclusivamente em regiões de florestas primárias e secundárias.
Reprodução – As fêmeas dão a luz à 1 ou 2 filhotes por parto.
Distribuição geográfica – Brasil do estado do Rio de Janeiro ao do Rio Grande do Sul.
Observações – De hábito alimentar herbívoro, gosta de comer folhas e frutos que busca nas árvores. Trepa de forma lenta mas com extrema agilidade e segurança, usando a calda para ajudar a se segurar. Procura como abrigo geralmente ocos de árvores onde passa a maior parte do dia, pois é animal de hábito crepuscular e noturno. Não anda em grupos. É um roedor dócil mas quando acuado por algum outro animal como uma jaguatirica ou um cão de caça, mantém o corpo encolhido e eriça os espinhos que servem como órgão de defesa. “À aproximação do inimigo, ele investe de costas, dando rabanadas laterais com a cauda, para acertar o adversário, porém sem lançar os espinhos como é crença popular” (SILVA, F., 1984). Outro fato lendário em que muitos acreditam, é de o espinho ter vida própria e ao penetrar na pele do agressor caminha pelo corpo e se atingir o coração pode matar. Na realidade os espinhos do ouriço possuem escamas justapostas tendo as extremidades voltadas para a base do espinho, por isso ao entrar na pele, fica preso, onde os movimentos musculares fazem com que penetre ainda mais. Este mamífero também sofre perseguição tanto por causa de sua carne que é apreciada pelos caçadores, como pelo fato de invadir pomares e plantações de banana e milho. Apesar disto existem alguns agricultores que o protegem. Hoje já não é espécie tão comum no Estado. Outra espécie cuja distribuição geográfica inclui o estado de Santa Catarina é C. prehensilis. Esta é parecida com a espécie descrita, mas de maior tamanho.
Texto: Mamíferos de Santa Catarina - Ana Verônica Cimardi Digitalização do texto: Fernanda de Souza Pimentel Teixeira
Fotos: Fernando José Pimentel Teixeira - Angelina, maio de 2008