Reportagem publicada na Folha de São Paulo mostra como é difícil e demorado a possível recuperação de uma floresta do ponto de vista da biodiversidade.
Isso mostra como são necessárias ações cada vez mais urgentes para a proteção dos remanescentes florestais. E também confirma a grande importância das RPPNs como verdadeiros bancos genéticos.
Mais abaixo mostramos duas árvores citadas pelo colunista Marcelo Leite encontradas na RPPN Rio das Lontras.
Área de mata atlântica destruída ilegalmente em São Paulo - Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Recuperação de floresta leva de séculos a milênios
Áreas degradadas de mata atlântica levam de 100 a 300 anos para se regenerar
Demora para retomar 40% de espécies endêmicas pode alcançar de 1 a 4 milênios, daí a urgência de preservar os últimos fragmentos
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
Um estudo na edição deste mês do periódico "Biological Conservation" traz boas notícias para a mata atlântica, que precisa desesperadamente delas depois de perder 93% de sua cobertura original. A floresta que recobria o litoral oriental do Brasil na chegada dos europeus consegue, sim, recuperar-se em tempo relativamente curto: 100 a 300 anos.
Em outras palavras, seriam necessárias de 4 a 12 gerações de brasileiros para recompor a mata destruída nas últimas 20. Se parece muito, prepare-se para a má notícia: o trabalho concluiu que a recomposição de toda a biodiversidade da floresta pode demorar entre 40 e 160 gerações (1.000 a 4.000 anos).
O estudo foi realizado por três pesquisadores da Universidade Federal do Paraná a partir de uma idéia de Marcia Marques, do Laboratório de Ecologia Vegetal. "Surgiu de uma curiosidade minha em compreender a resiliência [resistência] da floresta", conta. "Quando se observa uma floresta que se regenerou após um distúrbio, sempre vem a pergunta se aquela floresta corresponde ou não ao que era originalmente."
Seu estudante de mestrado Dieter Liebsch, co-orientado por Renato Goldenberg, se encarregou de levantar os dados. Eles foram obtidos em 18 outros estudos sobre mata atlântica publicados entre 1994 e 2007 que estabeleciam com alguma segurança a data de início da exploração da floresta. É o que se chama de "meta-análise" (compilação de informações de outros trabalhos).
A base da pesquisa foram as listas de plantas (florística) encontradas nos trabalhos anteriores.
Uma floresta digna do nome precisa abrigar também aquelas espécies tolerantes à sombra, grandes árvores como a maçaranduba (Manilkara subsericea) e as perobas (Aspidosperma spp).
Isso leva tempo. Nos primeiros anos e décadas, predominam as espécies pioneiras, que se dão melhor com a abundância de luz solar em clareiras e fragmentos desmatados. Também são menos freqüentes as espécies que dependem de animais para ter suas sementes dispersadas, como os guamirins, parentes da goiabeira dependentes de aves.
Uma floresta madura contém 90% de espécies não-pioneiras e 80% de espécies dispersas por animais. Sabendo a proporção desses dois tipos e o tempo decorrido desde a perturbação da mata em cada um dos 18 casos, foi possível calcular a velocidade de regeneração do perfil: de um a três séculos.
A mata atlântica é também uma das florestas tropicais mais biodiversas do planeta, com 40% de espécies endêmicas (que só existem em certos locais). Para recompor essa chamada beta-diversidade, no ritmo atual, a mata precisaria de 1.000 a 4.000 anos.
Bela Peroba na RPPN Rio das Lontras.
Esse enorme Guamirim fica no coração da RPPN Rio das Lontras.
* Para ver as árvores da RPPN Rio das Lontras acesse o álbum Expedição Flora nesse blog.
Fotos Fernada Kock.