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sábado, 3 de novembro de 2007

Africa de Sebastião Salgado

Imagem de "África": membro do grupo Dinka em um pasto no sul do Sudão em 2006; Salgado, que esteve no continente pela primeira vez em 1971, diz que livro é reaproximação com seu trabalho. Sebastião Salgado/Amazonas Images

Sebastião Salgado é fotógrafo e possui a RPPN Fazenda Bulcão em Minas Gerais.

Sua área está sendo totalmente reconstruída através de uma parceria do Instituto Terra e diversas instituições internacionais. Veja mais em: www.institutoterra.org


Salgado compila suas viagens à África

Fotógrafo reúne cerca de 300 imagens feitas ao longo de 30 anos no continente e apresenta pela primeira vez fotos de natureza.

Sebastião Salgado prepara oito livros com 30 grandes reportagens sobre o planeta; regiões do Brasil serão tema de três delas.


O continente africano sempre esteve na rota do fotógrafo Sebastião Salgado. Em 1971, ainda economista da Organização Internacional do Café, ele foi a Ruanda pela primeira vez.Voltaria ao país em outras ocasiões. Em 1991, já com fama internacional, ele fotografou plantações de chá, parte de um projeto comunitário, cujo início teve sua participação 20 anos antes; em 1995, registrou a destruição desses campos e os horrores do genocídio que matou mais de 800 mil pessoas; e, em 2004, retratou gorilas e vulcões. Tudo captado em um perímetro de apenas 50 km.
Cerca de 300 imagens como essas, feitas ao longo de 30 anos de carreira, integram "África", o novo trabalho do mais conhecido fotógrafo brasileiro.
"O livro conta um pouco minha história, porque comecei a fotografar na África e, como escrevo na introdução, dedico-o a um amigo. É um pedaço da minha história, mesmo antes de ser fotógrafo", conta.
A dedicatória é para Joseph Munyankindi, um hutu que Salgado conheceu naquela primeira viagem a Ruanda, assassinado em 1994.


Em entrevista à Folha, por telefone, de Paris, Salgado dimensiona o significado da África em sua trajetória. "O continente foi muito importante na minha fotografia. De certa forma, o livro é uma reaproximação com tudo o que fiz lá. O fato de trabalhar com Mia Couto [escritor que assina os textos], meu contemporâneo de trabalho na época da chegada da Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique] ao poder, é outra razão para fazê-lo."Moçambique está entre as experiências com bons resultados que Salgado testemunhou. "Foi o único projeto das Nações Unidas de uma negociação de paz que deu certo. O acordo entre a Frelimo e a Renamo [Resistência Nacional Moçambicana] funcionou bem.
"O trabalho de Salgado ganhou projeção por levar ao mundo imagens de miséria e violência de lugares marcados por guerras e tragédias naturais. Em um perfil publicado na revista "New Yorker", em 2005, o Amazon Images, escritório do fotógrafo em Paris, foi definido como uma filial solo da ONU, o que ele refuta. "É o ponto de vista do repórter. Claro que trabalhamos com uma grande quantidade dessas instituições, como o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, o Unicef e a Organização Mundial da Saúde", enumera. "Mas você não pode dizer que essas coisas, sozinhas, vão provocar mudanças. Elas fazem parte de um grupo de coisas que acontecem juntas. É um dos segmentos que levam à modificação.
"Por outro lado, Salgado é criticado por glamourizar a miséria em suas imagens. "É o ponto de vista deles [críticos]. O crítico nunca foi onde o fotógrafo foi, nunca viu o que ele viu. Tenho meu estilo. Algumas pessoas gostam, e outras, não."Em "África", pela primeira vez Salgado apresenta fotos de natureza.
"Não tem diferença nenhuma [fotografar gente e animais]. Tem que respeitar o bicho como se respeita o homem, saber como se aproximar. Com as paisagens é mais ou menos a mesma coisa, há uma certa dignidade nelas."As novas temáticas ampliaram seu trabalho. "Elas abriram uma nova fotografia na minha vida."


"Genesis"
As fotografias de natureza fazem parte de "Genesis", oito livros com 30 reportagens sobre o planeta. Algumas dessas imagens estão em "África".
"Já destruímos 54% do planeta e ainda temos 46% relativamente intactos, que são as partes mais difíceis de destruir, como os grandes desertos e as terras muito frias", diz.
"Estou buscando mostrar que ainda convivemos com o gênese e que temos que preservá-lo. Pensamos em fazer uma exposição ao ar livre, criar um livro para o grande público, que seja relativamente barato." O Brasil será tema de pelo menos três dessas reportagens, com o Alto Xingu, Amazonas e Pantanal. "Criamos também um projeto educacional que testamos no Brasil e que está sendo aplicado na Espanha e na Itália."

Tereza Novaes - Folha de S. Paulo