Páginas

sábado, 18 de maio de 2013

A ÚLTIMA ONÇA-PINTADA EM SANTA CATARINA

A morte da última pintada da serra catarinense
 
 A onça, já morta, é transportada pelas ruas de Urubici
 
A última onça-pintada (Panthera onca) do planalto serrano catarinense foi morta na tarde de 29 de janeiro de 1972, na fazenda da Pedra Branca, no interior de Urubici. Estava na mira do capataz da fazenda desde a noite anterior, quando havia desossado um cavalo a poucos metros da propriedade.
Ela morreu brigando: antes de cair dura no chão, vítima de um disparo certeiro no coração, a onça de 84 kg, um metro e meio de comprimento e 55 centímetros de cauda desferiu uma patada, na parte esquerda do rosto do capataz, que o marcou para toda a vida.
 
O destino da onça-pintada foi selado pelo padre João Alfredo Rohr, considerado o pai da arqueologia catarinense. Além dos estudos com resquícios de sambaquis ao longo do litoral do estado, pelo qual levou a fama, padre Rohr seguia o ofício, tradicional entre missionários jesuítas, de empalhar de animais silvestres.
 
Ele comprou a carcaça da onça para que, depois de empalhada, virasse objeto de pesquisa dos três mil estudantes por ano que visitam o museu de história natural que leva o nome do pároco, no sótão do Colégio Catarinense, em Florianópolis.
 
Dez anos mais tarde apareceria a última pintada em liberdade em Santa Catarina, encontrada no município de Rio Negrinho, na divisa com o Paraná, para ter destino semelhante ao da onça de Urubici: ser morta e empalhada por um caçador que, como Ermelino, não fazia idéia da importância da preservação dos maiores predadores da região até então.
 
Apesar de já terem habitado toda a região, há poucos registros no sul do Brasil de onças-pintadas, felino imortalizado em contos de Guimarães Rosa, como Meu Tio, O Iuauretê. Até os anos 40, as pintadas eram alvo fácil de caçadores contratados por fazendeiros para "desonçar" a região, assim como Preto Tiodoro na história de Guimarães Rosa, e Ermelino, em Urubici.
 
A caça e a derrubada das matas nativas aceleraram sua extinção nas décadas seguintes. Desde os anos 1990, as pintadas em liberdade são vistas circulando por regiões da serra do Mar e do Parque do Iguaçu, ambos no Paraná, e pelo Parque do Turvo, no noroeste do Rio Grande do Sul, apenas em fotografias tiradas no meio do mato.
 
Há um corredor ecológico ligando as onças gaúchas e paranaenses, que viajam pela Argentina, ao largo do território catarinense, em busca de novos territórios. As pintadas não entram mais em Santa Catarina devido ao grau de devastação das florestas originais de Mata Atlântica no oeste do estado, que deram espaço para a exploração agrária da região, conhecido celeiro agrícola devido à produção de cereais e suínos.


Fonte: Matéria publicada em setembro de 2008 / ClicRBS
Foto: Orquiso Rei de Oliveira, Divulgação