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quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Aquecimento Global na visão de Amyr Klink


Encontro com Amyr Klink: De alguma forma seus livros inspiraram a criação de nossa RPPN. Foto: Fernando Albuquerque.

Saímos ontem de Angelina rumo a Floripa para assistirmos uma palestra do escritor e navegador Amyr Klink sobre Aquecimento Global. 75 km pela estrada que margeia o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, onde é possível avistar belas cachoeiras e a imponente Mata Atlântica nas encostas íngremes. Lugar tão lindo e que ainda recebe a interferência da mão pesada dos seres humanos. É uma construção aqui, uma terraplanagem acolá, novos comércios pipocando ao longo da estrada cada vez que descemos rumo ao litoral. Qual o limite para esse crescimento desordenado que se espalha mundo afora e vem causando mudanças drásticas no clima do planeta? Quais ações governamentais poderão dar um mínimo de decência à ganância humana e ao poder cada vez maior do capital?
Perguntas que não encontram respostas... Saberia Amyr, com tantas histórias, experiências únicas e tão ricas responder às questões?

Auditório da Assembléia estava praticamente lotado. Foto: Luiz Brasil

Em 1884 foi possível acompanhar atento pela imprensa a travessia a remo do continente africano até o Brasil feita pelo - até então desconhecido - Amyr Klink. Assim que ele lançou o livro "Cem dias entre o céu e o mar" (Companhia Das Letras) foi um grande prazer ler o relato de seu planejamento, suas histórias e esforços para completar seu objetivo.

Vieram outros projetos e mais livros. Suas obras são instigantes, relatos tão saborosos e um verdadeiro prazer da primeira a última página. Mas, são acima de tudo, para nós, um incentivo a sonharmos, planejarmos e alcançarmos nossos objetivos.


Chris e Fernandinha numa noite de autógrafos em 2000. Foto: Arquivo pessoal.

Ele costuma fabricar barcos e navegar, as vezes pelos oceanos do planeta, as vezes pelas letras, ou pelas palavras, entre outras atividades. Nós, resolvemos, entre tantas outras coisas, criarmos uma área protegida, uma Unidade de Conservação, uma Reserva Particular do Patrimônio Natural: a RPPN Rio das Lontras!

O Brasil em Debate:

A palestra é uma louvável iniciativa da Assembléia Legislativa de Santa Catarina, chamada de “O Brasil em Debate”, que já teve como palestrantes o jornalista Caco Barcelos, a escritora Lya Luft e o esportista Lars Grael. Marcada para as 19 horas, procuramos chegar cedo e conseguimos sentar na segunda fileira. Nos chamou a atenção o fato do auditório de 600 pessoas estar praticamente lotado, mas a primeira fila reservada para as “autoridades”, logo a nossa frente, estar com cadeiras vazias. Será que o assunto “aquecimento global” não é tão importante assim? Será que aquela audiência toda estava em descompasso com as autoridades? Para se pensar...


Amyr disse achar bem interessante a nossa sugestão dele criar uma RPPN em sua propriedade em Parati. Foto: Fernando Albuquerque.

Amyr Klink começou a palestra no mesmo lugar em que terminou. Não deu um passo sequer na uma hora e meia em que falou. Impressionantemente o silêncio das pessoas era total, apenas entrecortado com as risadas das situações engraçadas contadas pelo palestrante, sempre com um humor sutil e inteligente.
Mas o tema era dos mais sérios e impossível não se preocupar com os dados sobre a fragmentação das geleiras e icebergs com mais de 180 km de extensão, do aumento dos ciclones na convergência Antártida, dos relatos da degradação humana que Amyr testemunhou no continente africano.

Disse a certa altura que o “profissionalismo” é a pior qualidade de um trabalhador, pois o que se precisa para o sucesso de qualquer atividade é, acima de tudo, a dedicação e a alma empregada.

Outra afirmação é de que “não temos culpa” pelo aquecimento global, “nem mesmo os Estados Unidos, o Lula, ou empresários”, mas que todos nós temos sim a “responsabilidade” pelos nossos atos, pelas nossas atitudes.

Também ironizou o fato da Ilha de Santa Catarina não haver atracadouros para receber barcos e o absurdo de terem construído uma ponte pênsil (por isso mesmo deveria ser alta) que, de tão baixa, impede a passagem de veleiros. E não contentes fizeram duas outras de concreto com o mesmo problema.


De quebra ainda foi possível um bate-papo bacana após a palestra. Foto: Fernando Albuquerque.

No final da hora e meia foi aberta a possibilidade do público realizar perguntas. Como ele disse ter problemas constantes no seu terreno em Parati, com especuladores e mesmo o Prefeito que insiste em passar ali uma rede de energia elétrica (a casa dele na baía de Jurumirim não possui eletricidade), indagamos e sugerimos que ele criasse uma RPPN, dando maior proteção na bonita área. Para nossa felicidade ele achou uma boa sugestão, citou em detalhes o trabalho do genial fotógrafo Sebastião Salgado e disse que vai pensar na possibilidade. Maravilha!


Amyr nos contou que conhece bem o trabalho desenvolvido na RPPN Fazenda Bulcão do fotógrafo Sebastião Salgado, em Aimorés, Minas Gerais. Foto: Fernando Albuquerque

Veja um resumo publicado pela ALESC:

16/08/2007- O Brasil em Debate na Assembléia Legislativa


O navegador e escritor Amyr Klink deu continuidade, na noite de ontem, ao programa Brasil em Debate na Assembléia Legislativa. Uma iniciativa do Parlamento catarinense, com apoio da Associação Catarinense de Imprensa e do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, a palestra sobre aquecimento global contou com o Auditório Antonieta de Barros lotado e a presença do presidente da Casa, deputado Julio Garcia (DEM), além dos deputados Renato Hinnig (PMDB) e Professor Sérgio Grando (PPS).

O palestrante iniciou sua explanação deixando claro que não é um especialista em aquecimento global, mas em projetos. “Minha atividade é planejar, construir e navegar. Este processo me levou a passar os últimos 21 anos viajando”. Apesar disso, estas duas décadas navegando fizeram dele um observador atento do meio ambiente e da natureza humana, qualidades que lhe concederam autoridade para falar sobre os caminhos que o planeta toma.

Tudo começou na cidade de Parati. Foi lá que Amyr partiu para sua caminhada e de lá iniciou a palestra desta quarta-feira. “Tenho grande carinho por Parati, cidade como poucas no Brasil. Nasceu de um projeto, coisa rara no país. Nasceu de sua vocação para porto e soube fazer uso racional das matérias disponíveis até a influência desastrosa de algumas administrações que se diziam modernas”.Mesmo com a criatividade dos fundadores de Parati colocada à prova, Amyr Klink decidiu que ali construiria uma casa adequada àquela natureza. Foi o operário de uma residência rústica que até hoje não conta com energia elétrica. “O prefeito quer passar luz elétrica pela minha propriedade, mas não há como me convencer. Sem luz e sem estrada. A forma mais fácil de se chegar lá é de barco e assim será”.


Para o experiente navegador “é importante se afastar do uso tecnológico para compreender a verdadeira necessidade das tecnologias. Muitas vezes não se compreende a simplicidade da verdade e isso nos leva a atitudes equivocadas”. Constantemente criticado por se negar a abrir seu recanto para a especulação imobiliária ou construção de resorts, Amyr destaca a importância de manter o lugar intocado, “algo muito mais valioso para o futuro”.

É nas coisas simples e em seus detalhes que o palestrante baseia muitas de suas idéias. Destacou que numa simplória canoa de pescador pode estar um cabide de informações tecnológicas e foi atento a estas pequenas coisas que solucionou problemas e venceu desafios.

O primeiro grande feito do navegador, a travessia solitária do Atlântico Sul num barco a remo, foi, segundo ele, “uma idéia equivocada, mas importante para aprender como o equilíbrio de elementos pode garantir a sobrevivência e o sucesso de uma expedição”. A falta de experiência foi fundamental para o êxito, pois tudo foi devidamente planejado.Para sua primeira experiência na Antártica a preparação levou seis anos e as dúvidas e temores da família e o tempo de duração da empreitada, inicialmente estipulada em 15 meses, fizeram com que fosse rotulado de insano. Acabou sendo uma temporada de 22 meses, sendo nove deles preso no gelo, esperando o inverno passar. “Foi uma experiência incrível. Aprender a racionalizar energia, produzir água, me manter aquecido...” Os riscos de estar sozinho numa situação extrema em lugar inóspito lhe revelaram que “o perigo está nos pequenos vícios cotidianos, em desperdícios assassinos que não nos demos conta”.


Foi nesta viagem que Amyr conheceu o inverno antártico. Preparado para os meses de escuridão se disse surpreso ao se deparar com o mar congelado. “Um lençol branco de neve refletindo a luz das estrelas. Uma luminosidade mais eficiente e agradável do que a luz solar”.Depois disso nasceu ao projeto de construir um barco para navegar especialmente na Antarctica. Uma série de inovações, algumas delas desenganadas por especialistas, fizeram nascer nele a vontade de construir seu próprio estaleiro. Hoje, este estaleiro, em Itapevi (SP), é especialista em construção de alumínio e compete em pé de igualdade com alguns dos melhores estaleiros do mundo, mesmo estando a 140 Km do mar. “Estamos longe do mar, mas numa região carente, onde existem pessoas dispostas a colocar a alma num trabalho em que acreditam”.

Construindo sua própria embarcação, Amyr Klink partiu para um desafio extremo. A volta ao mundo pelo continente Antártico. Ondas enormes, gelo, correntes despertaram mais uma vez sua paixão. “Era uma provação. Não se podia dormir mais de 45 minutos nem tirar os olhos do horizonte. Um desafio de 14 mil milhas em menos de 100 dias”. Para alcançar o objetivo seria necessário navegar 200 milhas por dia, cálculo que não contava com os icebergs de 180 km de comprimento nem com as formações ciclônicas.“Fui pretensioso e menosprezei problemas de clima. Às vezes, fazendo certo pode se estar cometendo um erro monumental. Não sei se por nossa responsabilidade ou por mudanças no ciclo da Terra, mas testemunhei ocorrências preocupantes entre minhas viagens. Não sei de quem é a culpa por isso, mas sei que é nossa responsabilidade tomar consciência e providências”.

Ondas de 80 pés, tempestades e situações gravíssimas fizeram com que ficasse até 60 horas ininterruptas no leme. Desistir passou-lhe pela mente. “Fui salvo por minha mulher. Depois de um contato por rádio ela simplesmente vendeu uma casa que tínhamos em São Paulo e contratou um serviço americano de meteorologia, capaz de fazer uma análise melhor que a minha naquelas terríveis condições. Aquilo me colocou apto a vencer mais um desafio e conseguir voltar pra casa”.


O apoio da família foi fundamental para que Amyr continuasse se impondo explorações e ultrapassando limites. Assim foi quando decidiu levar seus filhos para uma viagem de férias. O destino? Antártica. Oito adultos e cinco crianças rumo à Antártica foi “uma experiência diabólica”. Preocupações extras não lhe tiraram o ânimo e aprendeu que crianças têm um incrível talento para entender conflitos. “Superamos o profissionalismo nesta viagem. Inclusive passei a contestar o conceito de profissional. É preciso dar um pouco mais de si e elas foram capazes. Geralmente padecemos de um vício paternalista de que alguém vai resolver nossos problemas, mas elas tiveram a coragem e paciência para superar todas as barreiras”.

Para finalizar a palestra, não sem antes criticar, com humor, a inoperância náutica de Florianópolis, “que construiu duas pontes para garantir que nenhum navio passasse por aqui”, Amyr Klink lembrou que “o propósito do ser humano não é o progresso, mas o desenvolvimento. A solução para um mundo mais equilibrado cabe a nós encontrarmos”.
(Rodrigo Viegas) Fotos: Eduardo Guedes de Oliveira

Quem é Amyr Klink?

Comandante da embarcação, Amyr Klink é natural de São Paulo, filho de pai libanês e mãe sueca. Começou a freqüentar a região de Paraty (RJ) com a família quando tinha apenas dois anos de idade. Essa cidade histórica do litoral brasileiro é o lugar que o inspirou a viajar pelo mundo. Casou-se em 1996 com a Marina Bandeira, com quem tem as filhas gêmeas Tamara e Laura, nascidas em 1997 e a caçula, Marininha, nascida no ano 2000.

Desde 1965 é colecionador de canoas antigas, tendo ajudado a fundar o Museu Nacional do Mar em São Francisco do Sul (Sta. Catarina). No terreno esportivo, foi remador pelo Clube Espéria, em São Paulo, de 1974 a 1980. No ano de 1978, realizou a travessia Santos-Paraty em canoa (solitário) e em 1980 realizou de catamarã o trecho Paraty-Santos e Salvador-Santos, igualmente em catamarã durante 22 dias; Em 1982, a vela navegou o trecho Salvador - Fernando de Noronha - Guiana Francesa pesquisando correntes para o projeto seguinte: a travessia do Atlântico Sul a remo, em solitário.
Também percorreu mais de dois mil quilômetros num pequeno barco a motor na Amazônia, seguindo o curso dos rios Negro e Madeira. De moto já foi até a Patagônia e escalou a cordilheira dos Andes, percorrendo todo o território do Chile aos 19 anos.

Em 1984, o navegador realizou a primeira Travessia do Atlântico Sul a Remo em Solitário, viagem contada no livro "Cem dias entre céu e mar". Já em 1986, iniciou viagem preparatória à Antártica e Cabo Horn, a bordo do veleiro polar "Rapa Nui".

Foi em dezembro de 1989, que teve início o Projeto de Invernagem Antártica, em Solitário, a bordo do veleiro polar "Paratii", quando percorreu 27 mil milhas da Antártica ao Ártico, em 642 dias. Os livros: "Paratii - Entre dois pólos" e "As janelas do Paratii" relatam e ilustram este projeto.

Em 1992, participou do projeto Faróis do Brasil - Navegação terrestre da Costa Brasileira, em equipe com Klever Kolberg e André Azevedo. Em 1993, viajou novamente pela Costa Brasileira, desta vez pilotando um trike (asa delta motorizada).
Em janeiro de 1997, voltou para a Antártica como consultor de uma equipe de filmagem para captação de imagens de alpinistas de icebergs.Em 31 de outubro de 1998 iniciou o projeto "Antártica 360" - uma volta ao mundo pelo trecho mais difícil de ser realizada: a circunavegação em torno do continente gelado. Durante 79 dias, Amyr Klink enfrentou sozinho os mares mais temperamentais do planeta e muitos icebergs. É no livro “Mar sem Fim” que se encontra o relato desta viagem.

Em 2000, o navegador começou a desenvolver um projeto de construção de cais flutuantes adequados às condições brasileiras, para serem usados em marinas e portos de lazer. Participou do Rally Paris Dakar Cairo como navegador da equipe brasileira Troller, a bordo de um veículo 100% nacional, ficando em 6º lugar na categoria novatos.

Em 2001, o Veleiro Polar Paratii 2 ficou pronto depois de 8 anos de planejamento. Concebido no mesmo estúdio, o Bouvet-Petit, (estilo) do veleiro Seamaster (antigo Antarctica), este barco foi idealizado por ele próprio para ser uma "plataforma de trabalho". Em dezembro, Amyr Klink viajou até a Espanha com o novo barco para colocação dos dois mastros “aerorig”, produzidos em Palma de Mallorca.

Em 2002, o navegador concluiu a etapa experimental do Projeto Viagem à China, que prevê a volta ao mundo por uma rota nunca antes percorrida, no Círculo Polar Ártico. A etapa inicial do projeto foi cumprida com sucesso entre 30 de janeiro e 06 de abril. Neste período, Amyr e sua tripulação ultrapassaram o Círculo Polar Antártico, visitaram a Baía Margarida e adentraram o Mar de Bellingshausen, o extremo sul navegável da península antártica. (e de) De lá partiram para a Georgia do Sul para uma escala antes de voltar ao Brasil.

Em 2003/2004 realizou uma reedição da circunavegação polar com o Paratii 2.
Na primeira viagem, com o primeiro Paratii e em solitário, Amyr não teve oportunidade de registrar imagens.

A viagem com o Paratii 2 durou 5 meses, sendo 76 dias para completar a volta ao mundo e que rotulou o Paratii 2 como o veleiro polar mais eficiente que se tem conhecimento.

Com 5 tripulantes, foi possível documentar aquilo que só o Amyr já tinha visto, como desdobramento foi produzido um documentário e uma série de 4 episódios que terá veiculação internacional a cargo do National Geographic Channel.

Esta viagem fechou um ciclo de viagens experimentais que tinham como objetivo a aprovação de novos conceitos construtivos e a aplicação de novas técnicas em produtos de uso cotidiano, submetidos a condições extremas e produzidos com a preocupação de não agredir o meio ambiente.

Formado em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduado em Administração de Empresas pela Universidade Mackenzie, o navegador é diretor da Amyr Klink Planejamento e Pesquisa Ltda. e da Amyr Klink Projetos Especiais Ltda. Também foi (é) Sócio-Fundador do Museu Nacional do Mar, em São Francisco do Sul (SC), e da Revista Horizonte Geográfico.

É membro da Royal Geographical Society e Assessor de Expedições da Revista National Geographic Brasil.

Amyr Klink também ministra palestras em seminários para empresas, escolas, universidades, instituições e associações, abordando temas como: planejamento estratégico, gerenciamento de risco, qualidade e trabalho em equipe.
Fonte: Site oficial Amyr Klink