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quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Fêmeas dominam machos

As matérias abaixo mostram o que qualquer macho - com um mínimo de inteligência e sensibilidade - já sabia:

15/08/2007 - 17h51
Fêmeas dominam machos entre os mamíferos, segundo cientistas

Londres, 15 ago (EFE).- Um estudo de pesquisadores do Reino Unido e da Alemanha demonstrou que os mamíferos machos tentam impressionar as fêmeas seguindo as regras que elas próprias estipulam para selecionar seus companheiros.

Os cientistas destacam, em artigo da revista científica britânica "Nature", que os machos tentam seguir sistematicamente as ordens de suas companheiras. Eles seriam até mesmo capazes de abandonar seus clãs, se acharem que, com isto, podem agradar as fêmeas e conseguir se reproduzir.

De acordo com os pesquisadores, a regra entre as fêmeas mamíferas é evitar os machos que eram membros de seu grupo quando elas nasceram, e dar preferência aos que imigraram ao seu clã ou nasceram nele depois delas.

Os cientistas explicam que este procedimento evita que as fêmeas tenham que discernir se seu pretendente é parente próximo ou não, na hora de reproduzir.

O resultado, como afirma o artigo, é que os machos acabam realizando uma diáspora, saindo de seus clãs de origem e indo a outros para ter mais possibilidades de chamar a atenção das fêmeas.
Para fazer essas descobertas, os pesquisadores realizaram um estudo com dados demográficos das hienas da cratera de Ngorongoro, na Tanzânia. Os cientistas afirmam que o resultado desta pesquisa pode ser aplicado aos demais mamíferos que vivem em grupos.

"Ao todo, 11% dos machos começaram sua corrida reprodutiva em seu grupo natal, ao tempo que 89% se dispersaram", afirmam os especialistas. Eles dizem, ainda, que a maioria dos machos que seguiram as regras femininas preferiu um clã em que houvesse abundância de fêmeas jovens.

"Aqueles que começaram sua experiência reprodutiva em grupos com um maior número de fêmeas jovens tiveram um êxito reprodutivo mais durável que os que o fizeram em outros grupos", acrescentam.

Neste sentido, os pesquisadores afirmaram que as jovens hienas preferem machos recém-chegados a seus grupos em relação aos mais velhos no clã, que são os mais procurados pelas fêmeas mais velhas e que desfrutam de um melhor status.

"A hiena é um grande carnívoro que vive em grupos sociais ou clãs nos quais as fêmeas dominam socialmente os machos. Muitos machos se dispersam, enquanto poucas fêmeas o fazem", explicam os especialistas.



O Macaco Feminista
Entre os bonobos, ancestrais dos humanos, as fêmeas é quem mandam e sexo é uma farra
Maurício Cardoso


Imagine, leitor do sexo masculino, um mundo dominado pelas fêmeas, onde as relações sociais se dão sob o signo da conciliação e os atritos são resolvidos sem grandes confrontos. Não gostou muito? Agora imagine que lá se faça sexo o tempo todo, com todo mundo, livre e entusiasticamente. Melhorou? Esse é o planeta dos bonobos, uma subespécie de chimpanzé originária do Zaire, que vêm sendo chamados, um pouco de brincadeira, de macacos feministas.


O bonobo é um dos raros animais para quem não existe relação direta entre sexo e reprodução. Ou seja, como os humanos, eles fazem mais amor do que filhos. Ao contrário da maioria dos primatas, a sociedade dos bonobos é dominada pelas fêmeas e não pelos machos.

Os estudiosos perceberam apenas em 1928 que os bonobos formavam uma família diferente dentro da espécie dos chimpanzés, com um comportamento muito peculiar, em que o sexo está em primeiro lugar, funcionando como substituto da agressividade. Agora, o antropólogo Richard Wrangham e o jornalista Dale Peterson escreveram o livro Demoniac Males ("Machos Demoníacos"), no qual discutem semelhanças e diferenças entre chimpanzés, bonobos e seus primos mais evoluídos, os humanos.

Papel dominante - A exemplo dos chimpanzés, os bonobos têm perfil genético 98% similar ao dos humanos e origem comum. Há 8 milhões de anos, todos eles ocupavam o mesmo galho da árvore genealógica das espécies. A característica peculiar dos bonobos é o papel relativamente dominante das fêmeas -são elas, por exemplo, que costumam comer primeiro. "Entre os chimpanzés, as fêmeas estão subordinadas aos machos", explica Wrangham. "Entre os bonobos, os machos dominam apenas as fêmeas que ocupam posição inferior. Mas as fêmeas também dominam os machos inferiores".

Uma das explicações para isso é que, entre os bonobos, os vínculos mais duráveis se estabelecem entre as fêmeas, que passam grande parte do tempo em atividades "sociais" ou em brincadeiras sexuais. Wrangham acredita que essa organização social é resultado do tipo de alimentação desses macacos, que se adaptaram a comer frutos e pequenos animais, como os chimpanzés, além de folhas e raízes, como os gorilas. A facilidade de obter alimentos desestimulou o desenvolvimento da agressividade dos machos, mas incentivou as alianças entre as fêmeas.

Essas alianças acabam resultando em mais poder para quem as estabelece. Assim, quando um macho transgride alguma regra do bando, as fêmeas se unem para enquadrá-lo.

Agente conciliador - É no campo sexual que os bonobos se revelam muito criativos. "O sexo é a chave da vida social dos bonobos", garante Frans de Waal, professor da Universidade Emory, nos Estados Unidos, que pesquisou a agressividade dos primatas. Waal constatou que espécies ligadas por vínculos pessoais muito fortes e com conflitos em potencial precisam de mecanismos de reconciliação. Para os bonobos, é o sexo que funciona como instrumento de compensação da agressividade e faz o papel de agente reconciliador.

Isso é possível porque, ao contrário da maioria das fêmeas de outras espécies, que só são receptivas ao sexo no período fértil, as fêmeas bonobos são atrativas e ativas sexualmente durante quase todo o tempo. Além de intensa atividade sexual com seus parceiros, em que tomam a iniciativa, elas simulam relações com outras fêmeas -é justamente através do sexo que estabelecem as alianças entre si. Os machos também particam essa espécie de homosexualismo light. As atividades eróticas dos bonobos compreendem ainda sexo oral, masturbação mútua e beijos de língua. Não é difícil adivinhar que os bonobos continuarão a ser intensamente estudados.
Fonte: Veja, ano 29, número 42, 16 de outubro de 1996, página 57.