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quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Terra sem humanos

O que espera a Terra sem os humanos

Um jornalista científico americano analisa em livro como o mundo evoluiria se as pessoas se extinguissem. Em dois dias a água inundaria o metrô e mais tarde as ruas de todas as cidades rachariam. O autor propõe que cada casal só tenha um filho para evitar que o planeta se degrade mais.
Marc Bassets
Em Nova York

Imagine um mundo sem humanos. Um dia, de repente, o Homo sapiens sapiens se extingue. E então? Alan Weisman, um jornalista americano especializado em ciência, passou mais de três anos viajando por todo o planeta, falando com cientistas e especialistas para responder a essa pergunta.
Se o ser humano desaparecesse, conclui Weisman, a natureza demoraria pouco para invadir as grandes cidades do planeta. Em dois dias a água inundaria o metrô de Nova York. Depois as ruas rachariam. Aos cinco anos o fogo assolaria a cidade. Aos 20, as principais avenidas teriam se transformado em rios. Em menos de 300 anos, cervos, ursos e lobos migrariam para a cidade. Os ratos que vivem dos restos humanos e as baratas acostumadas à calefação dos edifícios desapareceriam. A selva de asfalto acabaria se tornando uma selva de verdade, a natureza ganharia terreno.

"Tentei averiguar o que restará do que criamos", explicou Weisman esta semana em um teatro em Manhattan, para um público extasiado, durante um colóquio sobre "The World Without Us" [O Mundo sem Nós], o livro que descreve como seria o planeta sem os seres humanos. Esse foi exatamente um dos ensaios mais vendidos e debatidos neste verão nos EUA, país onde, na esteira do documentário do ex-vice-presidente Al Gore sobre a mudança climática, proliferam os cenários de apocalipse ecológico.

O que restaria das obras humanas? De Nova York, pouco. Dentro de milhares de anos, quando o gelo cobrir a cidade, restariam a Estátua da Liberdade e as estátuas de bronze. Ficariam as cidades subterrâneas da Capadócia. Também o túnel do Canal da Mancha e os rostos dos presidentes dos EUA esculpidos no monte Rushmore. Em troca, a muralha chinesa - feita de material precário - e o Canal do Panamá - "uma ferida que a natureza tenta curar", segundo declara ao autor um funcionário dessa infra-estrutura - desapareceriam com segurança.

Weisman insiste no rastro envenenado do ser humano. O CO2 emitido em excesso na atmosfera demoraria 100 mil anos para desaparecer. Os reatores nucleares das 441 centrais que existem no mundo se superaqueceriam e acabariam se incendiando ou fundindo. A radiatividade duraria milênios.O que irrita especialmente o autor de "O Mundo sem Nós" é o plástico. No livro, Richard Thompson, um biólogo da Universidade de Plymouth, na Inglaterra, diz: "Imagine que toda a atividade humana parasse amanhã e de repente não houvesse ninguém para produzir plástico. Só com o que já existe, e levando em conta como ele se decompõe, será algo que os organismos encontrarão de forma indefinida. Milhares de anos, certamente, ou mais".

"É uma loucura que nos dêem uma sacola de plástico cada vez que vamos ao supermercado", Alan Weisman se indignou na apresentação do livro.

Apesar do sucesso de vendas, a obra recebeu críticas severas. "Agora que decidiram que quase qualquer aspecto da existência humana é ruim para o meio ambiente - dirigir, comer carne, acender a luz, ter filhos, respirar...-, os verdes levarão o argumento até o limite. O problema é a existência humana", escreveu "The Wall Street Journal" em um editorial.

De fato, Weisman insinua que a natureza poderia "sentir nossa falta" se nos extinguíssemos. "Não competimos com o planeta", ele diz. "Fazemos parte dele". Para que o planeta não se degrade mais, ele defende que cada família só tenha um filho. E repete curiosas reivindicações, como a do Movimento pela Extinção Humana Voluntária (VHEMT, na sigla em inglês).

Depois de constatar que um vírus dificilmente acabaria com todas as pessoas e que a guerra também não o faria, além de que "matar é imoral", o VHEMT defende que o ser humano deixe de se reproduzir. "Os últimos humanos", declara Les Knight, fundador do grupo, "poderiam desfrutar de seus últimos pores-do-sol tranqüilamente, com a consciência de que devolveram o planeta o mais parecido possível com o jardim do Éden".

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves