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quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Palestra Juca Kfouri

Tivemos o privilégio de um rápido encontro com o Juca nos bastidores. Ele conversou com a Fernandinha e até brincou durante a palestra, dizendo que já tinha ouvido falar (muito) dela.

Parecia que estávamos assistindo o Linha de Passe de toda segunda-feira na ESPN Brasil. Só que ali estava o jornalista Juca Kfouri sem seus parceiros José Trajano, João Palomino, Márcio Guedes, Fernando Calazans e Paulo Vinícios Coelho, o PVC.

Foi muito legal ouvir as histórias de quando ele era estudante universitário e como ele largou a sociologia para ser jornalista.

No final da palestra foi possível o público fazer perguntas. Aproveitei e indaguei sobre a relação entre eles, dos muitos temas polêmicos que causam discussões acaloradas. Lembrei de quando o Trajano fez greve no programa Cartão Verde, que passava na TV Cultura SP, e ficou o tempo todo em silêncio, ao vivo. Também citei o famoso caso onde o Amigão levantou-se e foi embora no meio do programa.
Juca contou que o Trajano é aquilo ali, na frente das câmeras ou longe delas, um cara autêntico, conhecido pelo humor variável e, acima de tudo, um cara muito legal!

Como parece ser o Juca. Como parece todos que participam do Linha de Passe. E, como o Juca, bem humorados, cada um a seu jeito, dando um tempero especial ao bate-papo semanal, que de certa forma nos faz sentir eles como nossos amigos que jogam conversa fora falando de futebol.
E isso, é papo sério!



Fernandinha ganhou mais uma dedicatória em sua agenda.


Juca estava com muita pressa para poder assistir a rodada do Brasileirão. Também tem acompanhado as Olimpíadas nas madrugadas. Logo depois da palestra ele já estava postando em seu blog. Fotos: Fernando José Pimentel Teixeira


Veja a cobertura da ALESC e um resumo da palestra:

Um obsessivo pelo bem do esporte nacional

Paixão. Esse foi o ingrediente que fez da palestra de Juca Kfouri, ontem (20) à noite na Casa, um sucesso. Com o tema “Nosso futebol é a cara do Brasil”, o palestrante do 12º encontro do programa “O Brasil em Debate na Assembléia Legislativa”, falou não só sobre futebol, mas também sobre corrupção, impunidade e falta de uma política pública desportiva no país.
“Quando penso em futebol hoje, penso em duas caras: a do Kaká - bela cara - e a do Ricardo Teixeira (presidente da CBF) que dispensa apresentações”, ressalta Kfouri. Para o jornalista, que iniciou sua carreira em nome da paixão pelo futebol, é triste conviver com a falta de incentivo ao esporte e esportistas do país. “Precisamos de uma política esportiva, uma política de massificação. O Guga foi durante um ano inteiro o número um do tênis no mundo. O que se fez para aproveitar isso? Nada! Quantos ‘Guguinhas’ têm por aí? Nenhum!”, desabafa.
O ex-senador Geraldo Althoff certa vez chamou Juca Kfouri de obsessivo, pois o jornalista afirmava que nenhum dirigente se salvava no futebol brasileiro. Após ser nomeado relator da CPI do Futebol, o catarinense entrou de cabeça nas investigações dos bastidores do maior esporte do mundo no país e pediu ajuda a Kfouri. Em um almoço no restaurante do Senado, em Brasília, ele confessou sua angústia ao descobrir toda a corrupção que permeava, já em 1999, o futebol brasileiro. “Mas ninguém se salva?”, perguntou Althoff a Juca, que respondeu: “Bem-vindo ao mundo dos obsessivos”.



Na palestra “Nosso futebol é a cara do Brasil”, o 12º convidado do programa O Brasil em Debate na Assembléia Legislativa, o jornalista Juca Kfouri – apontado pela revista Época como uma das 100 personalidades mais influentes do país – fez um relato da grave situação em que se encontra não apenas o futebol, mas todo o esporte nacional. Falou das relações promíscuas de dirigentes e governantes e não escondeu sua decepção com o governo federal, em especial com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Agora esses caras vão ver uma coisa! Um corintiano chegou lá! Um brasileiro com o fundo das calças poído por botequim e arquibancada”, comemorava Juca Kfouri, após o recém-empossado presidente Lula sancionar as duas únicas leis aprovadas por unanimidade, em acordo de lideranças, ainda no período em que Fernando Henrique Cardoso comandava o Brasil – o Estatuto do Torcedor e a Lei de Moralização do Esporte. Na ocasião, Lula garantiu que o torcedor não seria mais tratado como “gado” nos estádios brasileiros e que a corrupção no esporte seria combatida. Passados mais de cinco anos, Juca lamenta que os dirigentes brasileiros sejam mais bem-tratados no governo do PT do que nos anteriores. “O ‘Rei Ricardo I’ é um dos homens mais influentes do país, e nada é feito contra ele, apesar da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ter 17 indiciamentos por corrupção na CPI do Futebol parados na Justiça desde 2001”, revela, referindo-se a Ricardo Teixeira, presidente da entidade máxima do futebol brasileiro.



A frustração de Juca Kfouri com o presidente da República é reflexo da expectativa criada por Lula ao vencer a eleição de 2002. A poucos dias de tomar posse, o presidente eleito telefonou para o jornalista e o convidou para fazer parte de uma equipe que iria montar uma política esportiva para o país. Junto com outras personalidades do esporte, como Paula (ex-jogadora de basquete), Ana Moser (ex-atleta de vôlei) e Bebeto de Freitas (ex-técnico de vôlei, que atualmente preside o Botafogo de Futebol e Regatas), Juca ajudou a escrever um documento mostrando a necessidade do investimento em projetos de inclusão social através do esporte. “Havia apenas umas três linhas destinadas ao esporte de alto rendimento, onde estava escrito que o atleta de alto nível era responsabilidade da iniciativa privada”, lembra Kfouri. Hoje, a realidade é outra, com o país investindo R$ 4 bilhões para realizar os jogos Pan-americanos no Rio de Janeiro – dez vezes mais que o previsto, e com R$ 85 milhões previstos para tentar trazer os Jogos Olímpicos para o Rio de Janeiro em 2016.
A importância do investimento no esporte como fator de inclusão social se justifica, segundo Juca Kfouri, pelo benefício à saúde. “Há estudos mostrando que, para cada dólar investido em esporte, três dólares são economizados em saúde. Enquanto isso, nosso Ministério da Saúde mais parece um Ministério da Doença, pois ele apenas corre atrás, não trabalha na prevenção”, explica.

Mas por que Ricardo Teixeira e Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) são influentes a ponto de se tornarem intocáveis pela Justiça? “Essa gente tem um poder de sedução muito grande. Eles podem levar o Ronaldinho Gaúcho, no auge, ao Palácio do Planalto. A seleção do Bernardinho para uma audiência com o presidente. E isso tem um poder eleitoral enorme”, afirma Kfouri.



Apesar de todos os desmandos e impunidade, o jornalista garante que, aos 58 anos de idade e 38 de jornalismo, ainda acredita que o esporte brasileiro tem jeito. “Temos que achar caminhos para mudar. Eu garanto que uma semana de Jornal Nacional bem feito, ouvindo todos os lados, derrubava essa gente”, conclui, sem deixar de criticar a subserviência da grande imprensa brasileira aos comandantes da CBF, Ricardo Teixeira, no poder desde 1989, e COB, Carlos Arthur Nuzman, há duas décadas no poder.

Capitanias hereditárias do futebol

O futebol brasileiro, da mesma forma que o Brasil, apresenta contradições de proporções continentais. “Se fosse bem gerido, teríamos algo semelhante à NBA (liga de basquete profissional dos Estados Unidos)”, exemplifica. Juca remonta ao tempo da inflação galopante para mostrar a realidade do esporte brasileiro. “Lembro-me que todo mundo falava mal da inflação, mas ninguém fazia nada contra ela. Ora, alguém devia estar ganhando com a situação. Com a estabilização da economia com o Plano Real, veio a necessidade do Proer, porque os bancos, que lucravam com a inflação, começaram a quebrar”, recorda.



A realidade do futebol é semelhante. Jogadores saindo do país cada vez mais jovens por valores irrisórios – para citar um exemplo, Kaká foi vendido pelo São Paulo para o Milan em 2003 por US$ 8,5 milhões. Há poucos dias, especulou-se que o Chelsea ofereceu ao Milan US$ 100 milhões, preço que o clube italiano não aceitou para ceder o atleta –, clubes em situação falimentar, com dívidas gigantescas. “Todos, no mundo futebolístico, falam que isso é um absurdo, mas ninguém faz nada para mudar essa situação. Alguém está ganhando com isso”, reflete.

Como paralelo ao Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional, o Proer, que salvou os bancos, Juca aponta a criação da Timemania, loteria criada para ajudar os clubes brasileiros a sanarem suas dívidas com o governo. “Deram uma loteria pro futebol. Também quero uma para saldar as minhas dívidas”, ironiza. A Timemania é a quarta medida governamental para evitar a falência do futebol nacional. Antes já houve o Refis (Programa de Recuperação Fiscal) 1, 2 e 3. “Teremos também a Timemania 1, 2 e 3?”, questiona o jornalista, que acredita que, enquanto o futebol brasileiro não sair da era das capitanias hereditárias, dificilmente a situação irá mudar. “O capitalismo ainda não chegou ao futebol brasileiro. Ele vive na época da socialização da miséria.”

Jornalista, “para o bem da Sociologia”

Ex-militante de grupos clandestinos de esquerda contra a ditadura militar quando era estudante de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo, Juca Kfouri tinha em mente fazer uma tese que mostrava que o futebol não era um instrumento de alienação, ao contrário do que apregoava a maioria dos que eram contra o regime autoritário. “Certa vez um professor marcou uma prova para o mesmo horário do jogo Brasil x Romênia na Copa de 70, e protestei. O professor, então, propôs uma votação para decidir se a prova seria mantida ou não naquele horário. Fui derrotado por 20 votos a um, mas não fui fazer a prova. O professor Gabriel Cohn concordou que eu fizesse a prova em outro dia”, conta.



Gabriel foi o professor que o aconselhou a tornar-se jornalista, “felizmente para a Sociologia brasileira”, brinca Juca, lembrando que o professor é autor da frase que diz que ninguém que não tenha o fundo das calças poído por botequim e arquibancada entende o futebol. Talvez esse seja um dos problemas do futebol brasileiro. “Nenhum dos patrões da grande imprensa – pelo menos do eixo Rio-São Paulo – vai aos estádios. Eles não entendem a paixão do brasileiro pelo futebol”, explica.

O jornalista relembra que, se Lula tornou-se o melhor amigo de Ricardo Teixeira após o amistoso da Seleção Brasileira no Haiti, Fernando Henrique não acompanhava futebol. Na década de 80, o ex-presidente foi a um Palmeiras e Corinthians quando o goleiro do Palmeiras, Gilmar, fez uma defesa, ele perguntou a Juca. “Esse Gilmar ainda joga?”. Juca respondeu que o goleiro tinha esse nome porque seu pai fizera uma homenagem ao Gilmar campeão da Copa de 58, e que Biro-Biro não era o nome de uma jogada, mas de um jogador corintiano.

(Evelise Nunes e Paulo de Tarso/Divulgação Alesc)
Fotos da ALESC: Carlos Kilian