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sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O Mago do Design

O encontro das Lontras com o Mago do Design: Hans Donner Foto: Hermes

Mais uma palestra agendada na Assembléia Legislativa em Floripa. As inscrições via internet se esgotaram em menos de três horas e como havíamos conseguido nossas vagas, não poderíamos perder, afinal, o palestrante era o talentoso Hans Donner, conhecido como o “Mago do Design”.



E o dia amanheceu cavernoso, alguém esqueceu de avisar ao clima que havíamos acabado de passar pelo equinócio da primavera: chuva, vento, frio, neblina densa, baixa, escura como noite, bonito de ver de tão feio que estava o tempo. Mas seguimos depois do almoço rumo a Ilha de Santa Catarina. Os 75 km de distância de Angelina até a capital foram percorridos com atenção redobrada e ainda assim houve um pequeno susto quando encontramos um enorme caminhão fazendo uma ultrapassagem forçada e obrigou os carros no sentido contrário – nós inclusive – a testarmos os freios com aquele aguaceiro todo. Sufoco!




Mas valeu a pena. Foi uma das melhores palestras que já assistimos – e sem dúvida a mais emocionante! Hans Donner começou dando uma pincelada em sua trajetória, da sua chegada ao Brasil na década de 70, das rasteiras que tomou, das tantas dificuldades que enfrentou até conseguir o que chamou de “melhor emprego de design do mundo”!


E mostrando suas obras, entre elas as vinhetas dos programas da TV Globo, nos causou grande emoção, pois estão tão enraizadas na nossa cultura, no nosso dia-a-dia, na vida de cada um de nós que - quer queiram, quer não queiram - fazem parte da história contemporânea do país. Falou com carinho de sua família e mostrou o tempo todo um amor incondicional ao Brasil.


E no final, depois de quase duas horas de palestra, onde ele foi interrompido algumas vezes pelos aplausos - duas vezes pela platéia em pé – pudemos conversar com ele, que gosta muito do Ziraldo e que disse que chama seu filho de “Lontra”, tamanha a habilidade em nadar.


Ele falou, sobretudo, que precisamos mudar, para que não fiquemos reféns de um modelo econômico desigual, que cria grandes prédios cercados por gigantescas favelas. E disse se surpreender com a felicidade que vê nos pobres, em detrimento da melancolia dos ricos. Mostrou, em primeiríssima mão a abertura da nova novela “Duas caras”, que havia poucas horas tinham aprovado: um mar de pobreza cercando um imponente prédio envidraçado. Um verdadeiro retrato do nosso pobre planeta desigual.


Certamente é uma pessoa que já entrou na história do Brasil, levando o nome do país a ser relacionado com a qualidade e excelência mundo afora. Sua mensagem é genial: muitas vezes as soluções estão nas coisas mais simples.

O talento e a criatividade de Hans Donner no Parlamento Catarinense


A atuação extra-televisiva do designer Hans-Jurgen Donner, considerado o “mago dos efeitos visuais ou da computação gráfica”, foi apresentada na quinta edição do programa Brasil em Debate, na Assembléia Legislativa, na noite de ontem (26). Com o tema “Talento e Criatividade”, Donner fez uma palestra surpreendendo as quase 500 pessoas que lotaram o Auditório Antonieta de Barros, entre profissionais de comunicação, estudantes e outros interessados em conhecer a trajetória profissional do designar mais famoso do mundo.



A platéia que ficou frente a frente com o sinônimo de criatividade e inovação no país observou, atentamente, Hans Donner expor a mistura certeira de razão e emoção com que realiza seus trabalhos. Numa palestra singular, o profissional da área do design compartilhou suas mais importantes e bem sucedidas experiências, abordando temas como a vida, sua relação e paixão pelo Brasil, a criação da marca e da identidade visual da Rede Globo de Televisão, como também a concepção do projeto “Timedimension” e da associação com a Microsoft.


O palestrante iniciou a explanação fazendo um flash-back da sua vida e de como foi a sua permanência no Brasil, segundo ele, um país maravilhoso, mas que precisa de mais atenção dos políticos e de todas as pessoas que nele residem. Hans também falou da alegria de estar em Florianópolis, uma linda cidade que lhe proporcionou bons momentos na apresentação da abertura do Fantástico em 1992 no 1º encontro do Mercosul, na inauguração do relógio símbolo dos 500 anos do Brasil, na Avenida Beira Mar Norte em 2000, além de outros momentos agradáveis nas belas praias e nos rodízios de camarão.


Aos presentes, Hans enumerou seus trabalhos de sucesso, desde a criação da marca da TV Globo e de toda a sua identidade visual, da abertura de outros programas do grupo, das criações de aberturas de novelas como a de “Selva de Pedra”, exibida 21 anos atrás, como também da próxima novela das oito, “Duas Caras”, sendo utilizado o trabalho de ex-presidiários, moradores de uma favela carioca, que construíram uma favela em miniatura para a abertura dessa nova produção. Foram muitas histórias que encantaram pelo trabalho, sorte e sucesso.


Para o experiente designer que criou o Timedimension, um marcador de tempo que integra o Windows Vista, novo sistema operacional da Microsoft inspirado no conceito de tempo do universo, onde a passagem das horas se dá através da alternância de noite e dia, a criação do relógio do tempo foi a sua grande missão. “Quero espalhar para todo o mundo o conceito de novo tempo. Fui escolhido para tentar trazer mais beleza e humildade, a cada instante, a cada segundo”, disse Donner. O Timedimension é um mostrador formado por círculos concêntricos e que reproduz, de forma estilizada, a passagem do tempo pelas variações de claro e escuro.


“Gostaria que o mundo adotasse um novo visual do tempo, assim como fez Santos Dumont ao criar o relógio de pulso, quero revolucionar a forma como as pessoas acompanham o tempo". E acrescentou: “Meu relógio Timedimension é meu filhote de design mais querido. Tive que esperar oito anos para poder vê-lo se transformar em realidade”. O relógio marcou também o Reveillon de São Paulo em 2006, reunindo, aproximadamente, 2, 1 milhões de expectadores para a contagem regressiva, na Avenida Paulista, considerado o maior reveillon do mundo em número de pessoas.


Do amor e da vida em família, Hans falou do pai, que morreu quando ele tinha dois anos; da mãe, afirmando “ela é o sol, ela lutou muito e me ajudou a ser feliz”; da esposa Valéria e dos dois filhos, segundo ele, seus presentes da vida.


Na palestra, o designer ressaltou que cada um tem seu destino, ou alguma força que direciona nossas ações. “Quando se luta e se trabalha com dedicação, tudo vale a pena”.




Brasilidade


Do ponto de vista do design, Hans considerou que a bandeira do Brasil, símbolo oficial da Pátria, está errada, já que a linha com as palavras Ordem e Progresso está em declínio. “No design, o conceito de positivo é sempre da esquerda para a direita e apontando para cima. O símbolo da Pátria está com defeito de design e nosso “progresso” está despencando”.

Numa releitura da bandeira, o designer trocou o círculo por um coração e incluiu a palavra amor, ficando “Amor, Ordem e Progresso”. A nova bandeira foi estampada em camisetas e já se tornou pano de fundo de shows no país. Conforme o palestrante é preciso ter muito amor pela pátria. “Cheguei, amei e valorizei o Brasil, este país maravilhoso que me acolheu. Tenho a obrigação de dizer que viver aqui é um paraíso”.



Aplaudido de pé, Hans Donner finalizou a palestra dizendo: “Vocês vão me ajudar a espalhar a beleza no mundo. Vocês jamais irão esquecer a viagem que fizemos juntos. Vamos com amor”.

Perfil - Hans Donner nasceu na Alemanha, onde ficou por apenas dois anos, foi radicado desde pequeno na capital da Áustria, Viena, onde terminou seus estudos na Hohere Graphische Bundeslehr-und-Versuchsanstalt, uma das escolas de design mais famosas da Europa, quando a perspectiva de uma promissora carreira surgiu. Decidiu tentar a vida no Brasil, depois de assistir a uma reportagem sobre pintura rupestre e material de propaganda criado pelos designers brasileiros. Hoje o trabalho de Donner ultrapassa a área televisiva. Vai da moda à arquitetura, do design corporativo a palestras para organizações.

Igualmente felizes em suas palestras, o jornalista e escritor Caco Barcelos, a escritora Lya Luft, o esportista Lars Grael e o navegador Amyr Klink, já participaram do programa Brasil em Debate, uma iniciativa de destaque do Parlamento catarinense, com apoio da Associação Catarinense de Imprensa e do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, que proporciona aos catarinenses encontros mensais e gratuitos com expoentes do pensamento nacional.

(Andreza de Souza/Divulgação Alesc)



Conselho do Leitor da Hora

Fernando na reunião presidida pelo Editor-Chefe Giancarlo Baraúna, no Conselho do Leitor do Jornal Hora de Santa Catarina


Novo Conselho do Leitor do Jornal Hora de Santa Catarina

Nos próximos seis meses estarei fazendo parte do "Conselho do Leitor" do Jornal Hora de Santa Catarina, que tem circulação diária de cerca de 50.000 exemplares. Certamente um dos "pitacos da Lontra" mais lembrado será a da criação de uma coluna diária sobre meio ambiente.

O Hora de Santa Catarina é mais um jornal do Grupo RBS, como o Diário Catarinense, A Notícia, Jornal de Santa Catarina, Diário Gaúcho e Zero Hora. Seu foco é a prestação de serviço e nas editorias de Esporte, Variedades e Segurança, com o objetivo de informar e estabelecer vínculos baseados numa relação de confiança e no atendimento às necessidades locais. A equipe é coordenada pelo editor-chefe Giancarlo Baraúna.
Foto: Hora SC

Morre a ambientalista Judith Cortesão

Num país em que a memória ainda é tão pouco cultuada, a RPPN Rio das Lontras faz questão de homenagear essa personalidade ímpar que contribuiu significativamente com o planeta.



Judith Cortesão, ambientalista: "...tudo está integrado..."


Uma vida dedicada às causas ambientais.

Aos 92 anos, Judith morreu, terça-feira, em Genebra, na Suíça. Nasceu em Portugal e, em 1990, mudou-se para o Brasil, onde fixou-se no Rio Grande do Sul. Seu pai era o renomado historiador Jaime Zuzarte Cortesão. A ecologista foi professora do único curso de pós-graduação em Educação Ambiental Marinha do Brasil, na Fundação Universidade Federal de Rio Grande.
O forte envolvimento com as questões do meio ambiente fez com que Judith ocupasse o cargo de consultora da Unesco. Foi consultora das Ongs SOS Mata Atlântica e o Instituto Acqua. Em 2002, foi morar na Europa. À Furg, a ambientalista deixou um acervo de quase 5 mil livros. Em homenagem, a fundação criou a Sala Verde Judith Cortesão.

Fica aqui nossa homenagem a uma vida que certamente, como uma grande árvore que completa seu ciclo de vida de forma natural, deixando espaço para que as sementes espalhadas germinem e a vida continue.

Perfil:

Viúva do literato português Agostinho da Silva, Judith Cortesão teve oito filhos, dois deles adotivos, e 21 netos. Ela nasceu na cidade portuguesa do Porto, mas aos 17 anos foi obrigada a deixar Portugal porque seu pai, o renomado historiador Jaime Cortesão, estava sendo perseguido pelo governo ditatorial de António de Oliveira Salazar. Sua família passou pelo exílio na Espanha, na França, na Bélgica e na Inglaterra e chegou ao Brasil em 1940, quando Jaime aqui se instalou para pesquisar a história da formação territorial do país.

Judith morou ainda no Peru, no Uruguai e novamente em Portugal. Retornou várias vezes ao Brasil até se estabelecer aqui definitivamente no início dos anos 90, em Rio Grande. Na Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), foi professora do único curso de pós-graduação em Educação Ambiental Marinha do Brasil. Judith aprendeu catorze línguas, entre elas árabe, esperanto e chinês.

Formada em Medicina, Antropologia, Letras, Biblioteconomia, Meteorologia, Climatologia e Biologia, com cursos de especialização em Neuroendocrinologia e Genética e Reprodução Humana. Apaixonada por pesquisa, estudou temas tão diversos como poesia canadense ou a mulher caiçara como agente de transformação. Escreveu dezesseis livros, entre eles Pantanal, Pantanais e Juréia, a Luta pela Vida.

Participou da elaboração de seis filmes, como Taim, sobre a reserva gaúcha. Foi uma das criadoras do programa Globo Ecologia e consultora das ongs SOS Mata Atlântica e Instituto Acqua. Ela idealizou o Centro de Informação e Formação de Médicos e Cirurgiões de Doenças do Aparelho Locomotor de Brasília, no Hospital Sarah Kubitschek, e representou o Brasil em comissões internacionais, como a das Nações Unidas sobre Poluição Marinha de Origem Terrestre, no Quênia, e a do Patrimônio da Humanidade, no Canadá.

Acompanhou missões da Unesco em Portugal e no Brasil e representou o Peru, o Uruguai e a Inglaterra em congressos sobre assuntos tão diversos como medicina, literatura e educação. Participou ainda de duas expedições brasileiras à Antártida, em 1982 e 1983. Na primeira, convocou todos que estavam a bordo do navio, o Barão de Teffé, para estudar as espécies de pássaros da região. Esse encontro deu origem ao Programa Asas Polares, que visa proteger áreas de pouso e reprodução dessas aves.

Mesmo atuando em áreas tão distintas, seu foco sempre foi a ecologia e a "capacitação de quadros", como definia em linguagem militar o magistério. "Gosto de formar agentes multiplicadores de educação ecológica", afirma a professora, que já deu aula em dezesseis universidades, entre elas Sorbonne, em Paris, e Open University, na Grã-Bretanha.
Na Furg, o curso de Judith procurava capacitar profissionais que encarem a região costeira do Estado do Rio Grande do Sul como um sistema integrado de desenvolvimento ecológico e socioeconômico. "O mérito de Judith é quebrar a tradição da visão segmentada", explica Milton Asmus, professor de Oceanologia na universidade. "Seus alunos aprenderam, por exemplo, que, para desenvolver a região costeira, é preciso pensar além de atividades estanques. A costa não é propícia apenas à atividade portuária, turística ou agrícola. Isso tudo está integrado. E a comunidade local deve estar necessariamente envolvida nessa discussão."

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Uma história para ser lembrada

História mostra como a humanidade pode estar caminhando para a extinção

Quando a ilha entrou em colapso, os moais foram todos derrubados

A tragédia de Páscoa

Conhecido por ter erguido enormes estátuas de pedra, o povo rapanui deixou de existir porque não foi capaz de preservar a ilha em que vivia. Seu legado sombrio nos serve de alerta
Cláudia de Castro Lima

Ao descobrir uma pequena ilha no meio do Pacífico Sul, no domingo de Páscoa de 1722, o navegador holandês Jacob Roggeveen ficou impressionado. Não pela beleza, pois já havia visto ilhas bem mais paradisíacas. O que causou espanto foram gigantescas estátuas de pedra, espalhadas pela ilha.

Nos 150 anos que se seguiram, pelo menos mais 53 expedições européias alcançaram o pedaço de terra. Os diários de bordo dos exploradores relatam que, a cada nova visita, menos daquelas figuras enormes eram avistadas ao longe: elas estavam todas sendo derrubadas. Até que, em 1825, os tripulantes de um navio inglês não encontraram mais nenhuma em pé.

Segundo os exploradores europeus, as estátuas, chamadas de moais, pareciam testemunhas de uma sociedade em colapso. O próprio Roggeveen escrevera em seu diário: "A aparência destruída não poderia dar outra impressão além de pobreza e improdutividade singulares". Em meados do século 18, o povo rapanui, que habitava a Ilha de Páscoa, já estava em decadência.

Bem antes da chegada dos europeus, a ilha experimentara séculos de progresso, com plantações em franca expansão e comida abundante. Em algum momento, entretanto, algo deu muito errado. A população cresceu demais, as florestas sumiram, o solo sofreu erosão, a agricultura não vingou mais e as aldeias rapanuis se consumiram em guerras.

Para um grande número de pesquisadores, o colapso foi causado pela ação descuidada do homem sobre a natureza. Não é à toa que a Ilha de Páscoa é atualmente apontada como uma espécie de metáfora do futuro da Terra: o que houve com os rapanuis é mais ou menos o que pode acontecer com a gente.

Umbigo do mundo

Distante 3 600 quilômetros do continente mais próximo, a América do Sul, e 2 mil quilômetros da ilha mais próxima, Pitcairn, a Ilha de Páscoa é um dos pontos mais isolados do planeta. Tem 163 quilômetros quadrados - metade da área de Belo Horizonte, a capital mineira.

O nome dado pelos rapanuis a seu território fazia jus à situação geográfica: Te Pito Henua (algo como "o umbigo do mundo"). A ilha também era chamada de Rapa Nui, ou "Rapa Grande", por sua semelhança com uma ilha menor chamada Rapa.

A história da ilha é controversa. Não existe nenhum registro escrito anterior à chegada dos europeus. A data da colonização do local também não é certa. Estudos recentes apontam que, por volta do ano 1000, ela foi alcançada por povos polinésios. Pouco mais de 100 deles teriam encontrado uma ilha rica em fauna e flora, com solo fértil, coberta por um tipo grande de palmeira, que costumava alcançar 25 metros.

A tradição rapanui conta que o primeiro colonizador, Hotu Matu'a, chegou à ilha com sua família. A lenda é que ele teria se transformado no primeiro rei de Rapa Nui - e seus descendentes, assumido o posto nos séculos seguintes.

Os rapanuis eram comandados por um único líder, mas a sociedade se dividia em vários clãs familiares. Eles viviam em casas feitas de madeira, palha e folhas secas. Os vilarejos mais ricos eram os que tinham mais galinheiros - enormes e feitos de pedra -, pois as galinhas eram uma importante moeda de troca.

O ponto mais importante de cada vila era o centro cerimonial. Esses centros eram compostos de um altar, o ahu, sobre o qual os gigantescos moais ficavam. As estátuas de pedra eram construídas em homenagem a alguém importante do clã que havia morrido. Sua posição estratégica - de costas para o mar, olhando para o vilarejo - servia para que, direto da outra vida, o morto continuasse a olhar por seu povo.

Adeus às árvores

Entre os séculos 11 e 14, a sociedade rapanui viveu seus dias de glória. O solo vulcânico favorecia o cultivo de diversos alimentos, especialmente a batata-doce. A agricultura eficiente resultou em um baita crescimento populacional - estima-se que a ilha chegou a ter 15 mil pessoas. Aí começaram os problemas.

Um número maior de habitantes exigia que mais áreas fossem devastadas. "O plantio em grande escala necessita de um campo aberto", afirma o arqueólogo Christopher Stevenson, autor de Easter Island Archaeology ("Arqueologia da Ilha de Páscoa", inédito em português). "Outras demandas pela madeira foram para usá-la como combustível e nas estruturas de casas e barcos."

As palmeiras serviam para construir as canoas que os habitantes da ilha usavam em alto-mar para pescar um importante item de sua dieta: golfinhos. Como a vida marinha ao redor da ilha não era tão abundante, só os pescadores mais experientes, com suas canoas duplas (semelhantes a catamarãs), conseguiam trazer golfinhos para a mesa.

A carne do bicho era muito apreciada, assim como a de foca e de 25 tipos de pássaros selvagens. Adivinhe como isso tudo era preparado? Com a queima da lenha retirada nas florestas.

Mas não era só a alimentação que provocava desmatamento. Ele foi intensificado por uma disputa que tomou conta da ilha: a obsessão por construir moais. Os diferentes vilarejos criavam estátuas cada vez maiores. Os primeiros moais, que teriam sido feitos por volta de 1100, tinham entre 2 e 3 metros de altura. Já o maior que chegou a ser posto sobre um altar, esculpido cerca de 300 anos depois, tem 10 metros e pesa 82 toneladas. Aos pés do vulcão Rano Raraku, onde todos os moais eram construídos, há uma estátua com mais de 15 metros e cerca de 270 toneladas, que não chegou a ser terminada.

Mas o que fazer moais tem a ver com derrubar árvores? Segundo os pesquisadores, levar um moai do vulcão até um vilarejo e deixá-lo em pé era um trabalho que exigia muita madeira. Além disso, de acordo com a arqueóloga americana Jo Anne van Tilburg, da Universidade da Califórnia, um quarto dos alimentos de Rapa Nui era consumido no processo de produção e transporte dos moais - atividades que envolviam entre 50 e 500 pessoas de cada vez.

Conforme as palmeiras eram arrancadas, uma série de problemas no solo começou a aparecer. "A terra de cultivo ficou exposta ao sol, ao vento e à chuva", afirma o arqueólogo Claudio Cristino, da Universidade do Chile, um dos maiores estudiosos de Ilha de Páscoa. O solo sofreu erosão e muitos vilarejos ficaram inabitáveis, pois nada brotava ao seu redor. "Com a destruição dos solos férteis, não é difícil imaginar drásticos períodos de fome em Rapa Nui. Tensões sociais extremas causaram conflitos e a população da ilha, que teria chegado a 15 mil pessoas, começou a diminuir", diz Cristino, autor de 1000 Años en Rapa Nui ("1000 anos em Rapa Nui", sem tradução para o português).

Esse processo de decadência, de acordo com a maior parte dos estudiosos, ocorreu entre os séculos 16 e 17 - antes da chegada dos europeus. Segundo Cristino, a tradição oral rapanui menciona um período de guerras entre aldeias. Quando derrotavam os membros de determinado clã, os vencedores derrubavam os moais do vilarejo de cara para o chão - a maior humilhação que podia ser feita.

As expedições européias que visitaram a Ilha de Páscoa ajudaram a piorar a crise, espalhando epidemias e levando pascoenses como escravos. No fim do século 19, havia pouco mais de 100 pessoas na ilha. Basicamente o mesmo número que teria aportado por lá 1000 anos antes e fundado a sociedade rapanui.

Culpa de quem?

Estudiosos divergem quanto aos motivos do desastre da ilha. O geógrafo Jared Diamond, autor de matérias e livros sobre o assunto, batizou a tragédia de "ecocídio". Ao devastar os recursos naturais da ilha, os rapanuis teriam provocado um desequilíbrio que resultou no fim de um ecossistema e causou seu próprio extermínio. "A história da Ilha de Páscoa é o exemplo extremo de destruição florestal no Pacífico e está entre os mais extremos do mundo: a floresta desapareceu e todas suas espécies de árvores se extinguiram", escreveu.

Já para o antropólogo americano Terry Hunt, da Universidade do Havaí, não há evidência de que o colapso da população tenha ocorrido antes do contato com os europeus. Hunt sustenta que Rapa Nui foi colonizada bem depois do que se acredita - por volta de 1200. Assim, não haveria tempo para que, em pouco mais de três séculos, a população saltasse para 15 mil habitantes.

Sem superpopulação, a teoria do ecocídio não faria muito sentido. Para Hunt, a queda das árvores foi causada por uma mudança climática que ocorreu ao longo dos séculos. E foi intensificada por uma espécie trazida pelos europeus: os ratos. Alimentando-se de frutos e sementes da palmeira, os roedores dificultavam o nascimento de novas árvores.

Discordando da maioria dos especialistas, Hunt afirma que a ação dos colonizadores foi decisiva para acabar com o povo rapanui - assim como ocorreu com muitas outras sociedades pré-colombianas da América, dos astecas aos tupinambás. As expedições européias que freqüentaram a Ilha de Páscoa entre 1722 e 1877 tinham como principal atrativo a população local.

Os homens serviam de mão-de-obra escrava em países colonizados pela Espanha e pela Inglaterra. As mulheres viravam escravas sexuais. O missionário alemão Sebastian Englert escreveu sobre dois navios que chegaram lá à procura de escravos. Segundo o padre, a tripulação capturou 150 nativos e os levou ao Peru, onde todos foram vendidos. Diversas outras expedições fizeram o mesmo.

Na opinião do britânico John Flenley, professor de Geografia na Universidade Massey, na Nova Zelândia, e co-autor de The Enigmas of Easter Island ("Os enigmas da Ilha de Páscoa", também inédito em português), o que ocorreu foi uma combinação de fatores. "A superpopulação, o declínio dos recursos naturais, a exaustão do solo, as guerras e possivelmente uma mudança climática levaram a sociedade à extinção", diz.

"Há a possibilidade de um contato prévio com os espanhóis ter auxiliado, mas não há evidência real para isso." Flenley não acredita na teoria do "ecocídio". "Isso soa rude para o povo rapanui. Eu acredito que eles fizeram exatamente o mesmo que outras sociedades fariam. É da natureza humana explorar o meio ambiente. Apenas o controle de população os teria salvado, mas os métodos disponíveis eram absurdos, como o infanticídio. Eles então entraram em guerra. Nós faríamos o mesmo."

Hoje a Ilha de Páscoa pertence oficialmente ao Chile, país ao qual foi anexada em 1888. Seus habitantes vivem no vilarejo de Hanga Roa, onde funciona o centro comercial da ilha. Há poucas árvores replantadas na ilha, que vive principalmente do turismo.

A história dos antigos rapanuis é contada pelos atuais moradores como exemplo a não ser seguido hoje, mas o paralelo com o mundo atual é inevitável. "Há algumas lições a serem aprendidas com a história da Ilha de Páscoa", afirma John Flenley. "As principais são claras: para não se extinguir, uma sociedade tem de ter controle de natalidade, conservação ecológica e sustentabilidade."

Saiba mais sobre a Ilha de Páscoa e veja como eram erguidos os moais na edição 50 de História, nas banca

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Data comemorativa: Vamos criar o "Dia da RPPN"?

Dia 21 de setembro de 2007: Dia da Árvore. Vai aqui nossa singela homenagem às nossas parceiras de vida.


E qual é o dia da RPPN?

A RPPN Rio das Lontras lança o desafio a todos os proprietários de RPPN e amantes da natureza: Vamos criar o "Dia Nacional das RPPNs"?

Chris ao ver o calendário com datas relacionadas ao tema ambiental, uma idéia brotou: Vamos semear uma nova data comemorativa?

Afinal de contas já são centenas de RPPNs (caminhamos para a milésima) que protegem mais de 530 mil hectares de diversos biomas. Quantos serviços ambientais são gerados por todo esse esforço de conservação?

Quantas vidas e histórias escondem-se por trás da criação de cada uma delas? Quanto suor, lágrimas, lutas e desejos por um mundo mais equilibrado de cada um dos proprietários para deixar um pequeno - e tão rico! - pedaço de terra preservado para as futuras gerações poderem vivenciar o esplendor de cada detalhe da natureza?

A criação do "Dia da RPPN" vai proporcionar uma justa lembrança dessa importante categoria de Unidade de Conservação (os Cisnes das UC) e fortalecer institucionalmente as Reservas Particulares e divulgar a nobre e urgente causa ambiental, através da ação pessoal do proprietário em defender a preservação da biodiversidade e, em última análise, à vida.

A nossa já está lançada. Quem tiver sugestões, opiniões de datas, escreva. E deixe seu voto na nossa enquête.

Viva as árvores!
Viva a vida!
Viva as RPPNs!



Foto: Fernanda Kock - Chris posa em frente de uma Canela Leiteira na RPPN Rio das Lontras.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Gisele Bündchen e a água


A top model Gisele Bündchen veste o modelito mais fresco de sua carreira: um "vestido" de água.

A "roupa" não é criação de nenhum estilista excêntrico, e sim, parte da campanha da agência de publicidade W/Brasil para o lançamento de um novo comercial de sandálias.
A campanha começou a ser veiculada no intervalo do "Fantástico" de domingo (16) e foi criada para embarcar na onda das empresas que querem relacionar sua marca à preservação ambiental, no caso, o consumo consciente da água.


A nota acima foi dada na Folha de São Paulo. Mas pelo andar da carruagem é capaz de faltar a matéria prima para o "vestido".
Regiões do estado de São Paulo passam por uma grave seca. Notícias de incêndios alimentados por ondas de calor e seca se espalham pelo mundo, desde o Maranhão até na Austrália, da Grécia ao México.
Alguém ainda tem dúvidas das mudanças climáticas?


As cataratas do Iguaçu estão mais uma vez desfiguradas.


Ano passado o caudaloso rio Itajaí virou um filete de água como mostra a foto acima, tirada em Blumenau.
É bom a humanidade mudar seus conceitos de produção e consumo, pois o clima está cada vez mais cruel e o preço de tanta indiferença pode custar um preço cada vez mais caro.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Velhinho maluquinho


Velhinho maluquinho
Um dos principais desenhistas do país, Ziraldo ganha um almanaque que celebra seus 75 anos
MARCO AURÉLIO CANÔNICO - Folha de São Paulo


Ziraldo Alves Pinto é bom de papo. Às vésperas dos 75 anos -nasceu em 24 de outubro de 1932, em Caratinga (MG)-, traz às costas inúmeras profissões, passagens por veículos marcantes na cultura brasileira e uma coleção de boas histórias que se compraz em contar.

Parte desses causos está no recém-lançado "Almanaque do Ziraldo", uma abrangente e ricamente ilustrada "biografia visual", como definem os autores, Luis Saguar e Rose Araujo.

Editado pela Melhoramentos, o livro faz um extenso apanhado da obra do desenhista, escritor, editor, apresentador, jornalista, ilustrador, caricaturista (e muitos outros "ista" e "or"), passando por publicações históricas como "O Cruzeiro" e "O Pasquim", além de sua vasta literatura infantil.

"É o maior carinho que já recebi na minha vida", diz Ziraldo, que também é bom de hipérboles, principalmente ao se referir aos amigos (o que faz com freqüência) e às homenagens que tem ganhado por conta da efeméride de outubro.

"Duas pessoas cuidarem com o zelo que eles tiveram, procurarem imagens que eu nem lembrava, é tudo que um artista quer na vida. Já posso morrer."

O "Almanaque" é apenas uma das muitas homenagens que já lhe foram feitas neste ano -já teve uma grande exposição, "Jubileu do Ziraldo: 75 Anos de Um Menino Feliz", um DVD, "Ziraldo - O Eterno Menino Maluquinho", uma biografia sobre sua infância, escrita pelo jornalista Audálio Dantas, e ainda vai ganhar um livro reunindo 400 de seus cartazes para feiras, filmes e eventos.

"Eu devo estar desenganado e estão escondendo de mim", diz o autor, fazendo troça. "Essas homenagens todas só ganham os mortos, não os vivos."

Turco do armazém

Ao mesmo tempo em que recebe tantas deferências, continua produzindo em ritmo incessante -só neste ano já foram oito livros, o mais atual deles o infantil "A Menina das Estrelas". É esse ritmo de trabalho que, segundo Ziraldo, lhe garante a jovialidade.

"Estou lendo um livro da Simone de Beauvoir [1908-1986] sobre a velhice e estou impressionadíssimo com o sem-número de escritores e músicos que envelheceram mal. Eu não tenho tempo de ficar velho, eu estou fazendo coisas."

Quando se dá conta de que os 75 anos se aproximam, não é sem bom humor. "Só descubro que estou velho quando passo em frente ao espelho. Não me reconheço ali, nunca achei que ia ficar com essa cara de turco dono de armazém, achava que seria magrinho, de óculos, tipo um Carlos Drummond de Andrade moreno."

Drummond é um de seus amigos que aparecem no "Almanaque" -os dois se aproximaram em 1969, quando Ziraldo lançou "Flicts", seu primeiro livro infantil, que ganhou recentemente o prêmio Hans Christian Andersen, na Itália.

Há muitos outros, da turma do "Pasquim", como Jaguar, Fortuna e Millôr, aos mineiros do Rio, como Fernando Sabino, com quem Ziraldo trabalhou, bebeu, brigou e aprendeu.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Planeta em perigo!

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) acaba de divulgar a tradicional Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas de 2007. Todo ano é possível se atualizar - e horrorizar - quanto aos impactos das ações humanas nas espécies vegetais e animais do planeta.

São mais de 41 mil espécies analisadas em todos os continentes e dessas 16.306 estão ameaçadas de extinção. São 188 novas espécies que entraram na lista de 2007.


O levantamento mostra que estão em situação de risco:
* Um em cada quatro mamíferos;
* Uma em cada oito aves;
* Um terço dos anfíbios;
* 70% das plantas avaliadas (Meu Deus!).

O destaque fica por conta do desaparecimento dos grandes primatas e ainda os corais, base da vida de milhares de espécies e que foram pesquisados pela primeira vez!

Das três categorias de riscos (criticamente ameaçada, muito ameaçada e vulnerável), 1217 espécies de aves fazem parte delas. Algumas mudaram para uma categoria de maior risco de um ano para outro. E os motivos são as ações antrópicas (vegetações resultantes da ação do homem sobre a vegetação natural), como o uso de produtos químicos em plantações.

E o Brasil está em destaque na lista desse ano, aparecendo como um dos quatro países com mais espécies ameaçadas, junto com a China, Austrália e México. São 725 espécies em risco no país.

Cerca de 40% de todas as espécies da América do Sul estão em ameaça. 29 já foram extintas!

Dessas, 11 desaparecerem do planeta em território brasileiro.

E o rítmo da perda da biodiversidade aumenta a passos largos para uma crise global de extinção, segundo o comunicado oficial da Diretora Geral da organização, Julia Marton-Lefèvre.


O terrível é que nem ao menos conhecemos todas as espécies do planeta. Estimativas oscilam entre 10 a 100 milhões, mas a ciência conhece apenas 1,5 milhão. Muitas espécies estão desaparecendo sem ao menos terem sido conhecidas, pela destruição dos hábitats, pela poluição, pelas espécies invasoras e a mudança climática.

Pelo andar da carroagem, a espécie humana em breve poderá estar inclusa na lista vermelha.

Para conhecer por completo a lista e informações detalhadas, acesse o site da IUCN:
http://www.iucn.org/themes/ssc/redlist2007/index_redlist2007.htm

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Terra sem humanos

O que espera a Terra sem os humanos

Um jornalista científico americano analisa em livro como o mundo evoluiria se as pessoas se extinguissem. Em dois dias a água inundaria o metrô e mais tarde as ruas de todas as cidades rachariam. O autor propõe que cada casal só tenha um filho para evitar que o planeta se degrade mais.
Marc Bassets
Em Nova York

Imagine um mundo sem humanos. Um dia, de repente, o Homo sapiens sapiens se extingue. E então? Alan Weisman, um jornalista americano especializado em ciência, passou mais de três anos viajando por todo o planeta, falando com cientistas e especialistas para responder a essa pergunta.
Se o ser humano desaparecesse, conclui Weisman, a natureza demoraria pouco para invadir as grandes cidades do planeta. Em dois dias a água inundaria o metrô de Nova York. Depois as ruas rachariam. Aos cinco anos o fogo assolaria a cidade. Aos 20, as principais avenidas teriam se transformado em rios. Em menos de 300 anos, cervos, ursos e lobos migrariam para a cidade. Os ratos que vivem dos restos humanos e as baratas acostumadas à calefação dos edifícios desapareceriam. A selva de asfalto acabaria se tornando uma selva de verdade, a natureza ganharia terreno.

"Tentei averiguar o que restará do que criamos", explicou Weisman esta semana em um teatro em Manhattan, para um público extasiado, durante um colóquio sobre "The World Without Us" [O Mundo sem Nós], o livro que descreve como seria o planeta sem os seres humanos. Esse foi exatamente um dos ensaios mais vendidos e debatidos neste verão nos EUA, país onde, na esteira do documentário do ex-vice-presidente Al Gore sobre a mudança climática, proliferam os cenários de apocalipse ecológico.

O que restaria das obras humanas? De Nova York, pouco. Dentro de milhares de anos, quando o gelo cobrir a cidade, restariam a Estátua da Liberdade e as estátuas de bronze. Ficariam as cidades subterrâneas da Capadócia. Também o túnel do Canal da Mancha e os rostos dos presidentes dos EUA esculpidos no monte Rushmore. Em troca, a muralha chinesa - feita de material precário - e o Canal do Panamá - "uma ferida que a natureza tenta curar", segundo declara ao autor um funcionário dessa infra-estrutura - desapareceriam com segurança.

Weisman insiste no rastro envenenado do ser humano. O CO2 emitido em excesso na atmosfera demoraria 100 mil anos para desaparecer. Os reatores nucleares das 441 centrais que existem no mundo se superaqueceriam e acabariam se incendiando ou fundindo. A radiatividade duraria milênios.O que irrita especialmente o autor de "O Mundo sem Nós" é o plástico. No livro, Richard Thompson, um biólogo da Universidade de Plymouth, na Inglaterra, diz: "Imagine que toda a atividade humana parasse amanhã e de repente não houvesse ninguém para produzir plástico. Só com o que já existe, e levando em conta como ele se decompõe, será algo que os organismos encontrarão de forma indefinida. Milhares de anos, certamente, ou mais".

"É uma loucura que nos dêem uma sacola de plástico cada vez que vamos ao supermercado", Alan Weisman se indignou na apresentação do livro.

Apesar do sucesso de vendas, a obra recebeu críticas severas. "Agora que decidiram que quase qualquer aspecto da existência humana é ruim para o meio ambiente - dirigir, comer carne, acender a luz, ter filhos, respirar...-, os verdes levarão o argumento até o limite. O problema é a existência humana", escreveu "The Wall Street Journal" em um editorial.

De fato, Weisman insinua que a natureza poderia "sentir nossa falta" se nos extinguíssemos. "Não competimos com o planeta", ele diz. "Fazemos parte dele". Para que o planeta não se degrade mais, ele defende que cada família só tenha um filho. E repete curiosas reivindicações, como a do Movimento pela Extinção Humana Voluntária (VHEMT, na sigla em inglês).

Depois de constatar que um vírus dificilmente acabaria com todas as pessoas e que a guerra também não o faria, além de que "matar é imoral", o VHEMT defende que o ser humano deixe de se reproduzir. "Os últimos humanos", declara Les Knight, fundador do grupo, "poderiam desfrutar de seus últimos pores-do-sol tranqüilamente, com a consciência de que devolveram o planeta o mais parecido possível com o jardim do Éden".

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Tesouro do mar: excremento de baleia vale uma fortuna



Dejeto valioso: Parece uma pedra desgastada pelo mar, mas na verdade é âmbar-gris que, dependendo da idade, pode valer milhares de dólares

Tesouro do mar: excremento de baleia vale uma fortuna

O âmbar-gris, substância produzida pelas baleias cachalotes machos após um jantar à base de lula, entra na composição de perfumes – e nas antigas receitas orientais para ganhar força e aumentar a virilidade
por Cynthia Graber

Pedras e “torrões” que à primeira vista parecem lixo em praias ou boiando nos oceanos podem valer milhares de dólares: são fragmentos de âmbar-gris, uma substância produzida pelas baleias cachalotes machos após um jantar à base de lula: os bicos duros e pontudos dos moluscos irritam as vísceras das baleias. Os cientistas acreditam que as cachalotes produzem essa pasta gordurosa no estômago para proteger seus intestinos. Algum tempo depois, os animais eliminam um enorme “torrão”, que pode ter centenas de quilos.

Blocos pretos viscosos e mal-cheirosos de âmbar-gris recém-expelido flutuam na superfície do oceano. O Sol, o ar e a água salgada oxidam a massa, e a água evapora continuamente. O bloco endurece, se quebra em pedaços menores, incrustados com bicos de lula, e finalmente se torna cinza e com aspecto de cera. Então, esses fragmentos começam a exalar um aroma doce que lembra tabaco, pinho ou matéria vegetal em decomposição. A qualidade – e o valor – de um fragmento depende do tempo que ficou flutuando, diz o especialista e comerciante de âmbar-gris Bernard Perrin, “pois ele envelhece como um bom vinho”.

Por milhares de anos, esse tesouro dos mares foi altamente valorizado. No Oriente Médio, os homens transformavam o âmbar-gris em pó e o ingeriam para ganhar mais força e virilidade, combater males do coração e do cérebro e ainda temperar alimentos e bebidas. Os chineses o chamavam de “fragrância da saliva do dragão”. Os antigos egípcios o queimavam como incenso. Um tratado médico inglês da Idade Média informa aos leitores que o âmbar-gris pode acabar com dores de cabeça, resfriados e epilepsia, entre outras doenças. E os Portugueses conquistaram as Maldivas no século XVI em parte para ganhar acesso às porções generosas da substância cheirosa nas ilhas.

A palavra árabe anbar se refere especificamente a essa substância produzida pela cachalote e é a raiz da palavra “âmbar”. Há séculos os franceses usavam os termos amber gris e amber jaune (âmbar-gris ou cinzento e âmbar amarelo) para distinguir o âmbar-gris de origem animal daquilo que hoje se tornou o significado padrão da palavra “âmbar”: a resina vegetal dourada.



Fábrica de âmbar-gris: Como o âmbar-gris ainda não pode ser sintetizado, as cachalotes continuam sendo as únicas produtoras da substância, graças à dieta rica em bicos pontudos de lulas

Assim como outros ingredientes de origem animal (o almíscar, por exemplo), o âmbar-gris tem um aroma todo próprio – derivado de seu componente químico, a ambarina –, e entra na composição de perfumes famosos como o Chanel no. 5. Ele também enriquece outras notas olfativas do perfume (como o sal ressalta o sabor dos alimentos) e, principalmente, prolonga os outros aromas uma vez que as moléculas de odor possuem uma grande afinidade com outras moléculas lipofílicas. Ficam, assim, associadas ao âmbar-gris, cujas moléculas são maiores e mais pesadas, e não evaporam todas de uma só vez, explica George Preti, químico de odores do Monell Chemical Senses Center nos Estados Unidos.

As empresas americanas de perfumes não usam mais o âmbar-gris em seus produtos, principalmente por causa da legislação confusa em relação à sua venda no país. Internacionalmente, no entanto, o comércio é legal e Perrin não tem problemas para encontrar empresas francesas que comprem seu estoque. “Também vendemos para uma família real no Oriente Médio, que o utiliza como afrodisíaco. Aparentemente, eles tomam uma mistura de leite, mel e âmbar-gris moído”, ele conta.

Muitos aspectos do âmbar-gris permanecem misteriosos. Por que a substância é comumente mais encontrada no hemisfério Sul, apesar das cachalotes viverem nos oceanos do mundo todo? E por que somente as cachalotes – e particularmente os machos – a produzem? Como os antigos habitantes do Oriente Médio decidiram usar o âmbar-gris como medicamento, ou decidiram que a “eau de baleia” seria uma fragrância atraente?

Nem todas as qualidades aromáticas do âmbar-gris foram sintetizadas; assim, o original continua valioso. Com a população de cachalotes reduzida de 1,1 milhões, antes da pesca de baleias, para aproximadamente 350 mil hoje, menos âmbar-gris flutua no mar. No entanto, Whitehead diz que a população está se recuperando lentamente, e que apesar da maioria dos “torrões” encontrados acabam sendo pedras ou cera ou outros dejetos do oceano, especialistas e pescadores continuam desbravando praias e ondas na esperança de encontrar esse tesouro do mar.

Fonte:American Brasil

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Banco de dados de Reservas Particulares


TNC e Confederação de RPPN lançam site com banco de dados inédito de reservas particulares do Brasil

A The Nature Conservancy (TNC) e a Confederação Nacional de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) acabam de lançar o mais novo e completo banco de dados sobre as reservas particulares do País, disponibilizado no site www.reservasparticulares.org.br . O banco possibilita a visualização das reservas cadastradas e georreferenciadas por meio de uma interface com o Google Earth, além dos limites dos biomas, das fisionomias vegetais e das unidades de conservação públicas.

As principais vantagens do banco de dados são: possibilitar uma troca de informações com objetivo de melhorar a gestão das reservas particulares; dar suporte na tomada de decisões para a construção de políticas de incentivo; e permitir ao proprietário de reservas fazer pesquisas, cadastrar e atualizar as informações de suas área com facilidade.

O banco de dados mostrará o mapa da propriedade, dados cadastrais, caracterização como habitats especiais existentes e espécies de fauna e flora, dados sobre ecoturismo, sustentabilidade da reserva, pesquisa, gestão, educação ambiental e também a interação social da reserva com o entorno, além de fotos. O desfio será manter o banco de dados sempre atualizado e dar suporte aos processos de gestão das reservas de forma particular e das redes de proprietários.

Serviço:
The Nature Conservancy (TNC) é uma das mais antigas ONGs ambientais do mundo, criada em 1951. Presente no Brasil desde 1988, a TNC desenvolve projetos nos principais biomas brasileiros (Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal e Caatinga). Com atuação em 28 países, a TNC trabalha para proteger mais de 107 milhões de hectares. Conheça nossos projetos: www.tnc.org.br Confederação Nacional de RPPN (CNRPPN) é uma associação sem fins lucrativos, constituída por 15 associações de proprietários de RPPN dos 27 estados e todos os biomas brasileiros. Estas representam as 742 RPPN existentes, perfazendo mais de 580.000 hectares de áreas naturais protegidas.

Para maiores informações: www.rppnbrasil.org.br
Fonte: América Mágica

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Governador estressa gambá!


O Governador de Santa Catarina Luiz Henrique da Silveira foi até a pequena e simpática cidade de Timbó, no interior do Estado, para mais um compromisso político. Mas é impressionante a falta de jeito com o meio ambiente do Chefe do Executivo catarinense, mesmo que meio sem querer:
É que o premiado com a "Motoserra de Ouro" em 2006 foi recebido com o indefectível, brega e desagradável espocar de fogos de artifícios e um coitado de um Gambá-de-orelha-preta que dormia numa árvore da praça acabou caindo de susto em meio a multidão - para azar da comitiva de Luiz Henrique, já que o assustado animal começou a chamar todas as atenções do público presente e dos jornalistas de plantão.
Infelizmente não sabemos se a história terminou bem para o pequeno Didelphis marsupialis, porém ficamos na torcida para que ele possa ter voltado ao seu cotidiano em paz e tranqüilidade.

Governador LHS (lado esquerdo da foto) faz uma estranha saudação no evento de Timbó. Tomara não tenham oferecido sopa de gambá para ele.
Foto gambá: Artur Moser - Jornal de Santa Catarina
Foto governador: WEB

domingo, 2 de setembro de 2007

Relato sobre o Globo Repórter


Um programa sobre gente

Por Marcelo Canellas

A equipe estava sem fome, era cedo, bem antes de meio-dia. Mas tínhamos de almoçar ali mesmo, num restaurante às margens da rodovia que liga São Paulo a Cotia, porque nosso compromisso no Rancho dos Gnomos, onde conheceríamos um santuário de grandes felinos africanos, seria por volta das 13h. O garçom não conteve a curiosidade: "Vocês são do Globo Repórter? E é sobre gente ou sobre bicho?".

Meu primeiro ímpeto foi dizer que “animais abandonados” era o tema do nosso programa. Mas a pergunta do garçom foi como um sopro de lucidez entrando numa frincha da percepção, elucidando o que estava inteiramente oculto. Então respondi, convicto: "É sobre gente, amigo. É sobre a natureza humana".

À medida que fomos filmando pássaros com asas amputadas, leões com garras arrancadas, chimpanzés com presas serradas e todo tipo de seqüelas da violência contra os animais, fui me convencendo de que eu estava certo. Estávamos fazendo uma reportagem sobre o quanto as pessoas, ao odiarem uma outra forma de vida, podem negar sua própria humanidade. E também sobre como podem honrá-la ao amar os animais.

No longínquo ano de 1206, em pleno vigor do espírito feudal que punha suseranos e vassalos em esferas incompatíveis de convivência, um certo Francisco de Assis abandonou os castelos que freqüentava, desfez-se de suas posses, despiu-se até mesmo de suas vestes e foi viver entre os pobres. Poeticamente, chamava o sol de irmão e a lua de irmã. E dizia que nada define melhor a condição humana do que a capacidade de amar os bichos. Não é preciso ser religioso ou acreditar em São Francisco de Assis para saber, mesmo 801 anos depois, que o que nos torna diferentes, o que nos torna especiais, o que nos torna magnânimos em comparação com as outras formas de vida, é a nossa capacidade de amar.

Homens e mulheres têm de sobra as ferramentas do afeto, forjadas na cultura e na vida em sociedade. A tolerância, a generosidade, a idéia de que temos um futuro comum neste planeta são princípios universais conquistados pela Humanidade em sua dura luta contra a barbárie. Não gostamos da solidão, não queremos a dor, não toleramos a humilhação. Se somos egoístas, se ferimos e matamos, se submetemos nossos semelhantes ao vexame da miséria e da pobreza, estamos em desacordo com o esforço civilizacional da convivência. Civilizado convive, respeita, tolera. Os bárbaros subjugam. Tanto faz se os subjugados são gente ou bicho.

Vimos leões entrevados pelo confinamento, chimpanzés esquizofrênicos e atormentados por anos de espancamento, araras cegas, onças mutiladas e todo tipo de sofrimento e privações. Parece a vitória da barbárie. Não é. Porque vimos também extraordinários exemplos de generosidade e dedicação. A grandeza de saber amar e proteger seres vivos que, como nós humanos, também sentem frio, dor e medo, ajuda a recuperar a humanidade que ainda há em cada um de nós. Basta ver o que o Rancho dos Gnomos fez com o leão Will. Abandonado por um circo e tendo vivido a vida inteira trancafiado, Will pôde, aos 13 anos de idade, pisar na terra pela primeira vez. Esfregando as patas na grama, no húmus, na energia mineral da natureza, livre da superfície inócua do chão da jaula, Will nos enche de ternura, nos entope de compaixão e, portanto, nos ajuda a salvar um pouco da humanidade que tínhamos perdido.

Marcelo Canellas
Veja "Jornal tenta redimir matéria infeliz" no: http://www.pitacosdalontra.blogspot.com/