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segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Fatos e fosfatos

Serra do Rio do Pinheiro coberta pela luxuriante floresta que será destruída com o Projeto Anitápolis.

Dia 24 de outubro passado houve, segundo matéria de uma publicação local, uma “reunião” da “Indústria de Fosfatos Catarinense Ltda.” para prestação de esclarecimentos à comunidade da cidade de Rancho Queimado sobre a mina de fosfato que eles querem implantar na cidade vizinha de Anitápolis.
Segundo essa mesma nota, os moradores de Rancho Queimado “não tinha muitas informações sobre o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), que teve entrada na Fundação Estadual de Meio Ambiente (FATMA) em maio de 2006”.
Para apresentar o Projeto e prestar esclarecimentos a IFC designou um representante jurídico, um engenheiro de minas (da empresa paulista que elaborou o EIA/RIMA) e o engenheiro civil gerente do projeto. Também estavam presentes os prefeitos das duas cidades, vereadores, comerciantes e estudantes.


Houve certamente a apresentação do projeto e as devidas explicações pela ótica empresarial, na visão capitalista do uso dos recursos naturais a qualquer custo, sem nenhuma preocupação concreta com os moradores da linda região e as conseqüências preocupantes e desastrosas que um empreendimento desse porte deverá ocasionar para o meio ambiente.

Mas segundo informações de pessoas que presenciaram a reunião, os apresentadores foram deselegantes e até grosseiros com agricultores locais que se mostraram contrários ao projeto. Também houve pressão política junto às comunidades para que não se pronunciassem desfavoravelmente.

Veja a entrevista que fizemos com o biólogo PHD Jorge Albuquerque em março desse ano e que foi publicada no Jornal O Tropeiro:


Fernando José Pimentel Teixeira
Christiane de Souza Pimentel Teixeira
RPPN Rio das Lontras

Ele possui graduação em Bacharelado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Paraíba (1981), mestrado em Zoologia - Brigham Young University, nos Estados Unidos (1984) e Doutorado em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996). Atualmente é o presidente da Associação Montanha Viva. Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Biologia da Conservação, atuando principalmente os temas conservação, aves de rapina, aves florestais, avifauna e floresta atlântica.


O Dr. Jorge Albuquerque tem chamado a atenção da mídia pela polêmica de uma possível instalação de uma mineradora de Fosfato na cidade de Anitápolis, o que poderá ser um enorme problema ambiental e social. Em sua página na internet ele dá nome aos bois e aponta os altos riscos dessa tentativa um tanto questionável – para dizer o mínimo! É com ele nossa conversa sobre os delírios governamentais.







Fernando e Chris: Qual o real perigo que representará a construção de uma empresa exploradora de fosfato aos moradores da cidade de Anitápolis e região?
Jorge Albuquerque:Toda atividade de mineração envolve grandes danos ambientais. Os danos mais evidentes estão associados a destruição e descaracterização do ambiente. Exemplos: região de mineração no sul catarinense (a paisagem de solo lunar de Criciúma) e as fosfateiras em atividade em Minas gerais e sul de São Paulo.

Fernando e Chris: A região tem um relevo acidentado e você diz que o projeto da fosfateira prevê duas barragens com rejeitos da prospecção. É possível imaginar os danos de um rompimento como o que ocorreu recentemente na cidade mineira de Muriaé?
Jorge Albuquerque: O EIA- RIMA (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) apresentado pela Companhia Fosfateira catarinense ao Ministério Publico Federal descreve duas barragens construídas com o rejeito da lavra do fosfato nas encostas da Serra do Rio do Pinheiro. Este rejeito pode conter diversos elementos químicos potencialmente tóxicos. Os rejeitos do fosfato em outras regiões do mundo apresentam selênio, cádmio e outros elementos radioativos que em altas concentrações podem se tornar um sério problema ambiental e de saúde pública. Estas barragens previstas na fosfateira de Anitápolis terão, caso aprovado o empreendimento, a altura de 80 metros acima do nível do Rio do Pinheiro. A região de Anitápolis e a sua proximidade da Serra Geral é sujeita a uma significativa precipitação de chuvas. Imaginando um cenário de muita chuva, poderíamos ter um desastre em potencial que poderia causar a erosão das barragens da fosfateira como aconteceu em Muriaé.
A cidade de Anitápolis fica a cerca de 10 km da lavra e mais ao sul temos Santa Rosa de Lima e outros municípios servidos pela bacia do Rio Braço do Norte. Caso aconteça algo similar ao acontecido em Muriaé, as perspectivas de um desastre ambiental e social são muito grandes.

Fernando e Chris: Na hipótese de uma catástrofe ambiental com os rejeitos radioativos se espalhando pela bacia do Rio Braço do Norte, quais as conseqüências?
Jorge Albuquerque: Casos onde fosfateiras causaram danos ambientais sérios estão registrados na mídia internacional. No estado americano de Idaho o rejeito da fosfateira colocou quantidade muito grande de selênio no ambiente, causando contaminação ao solo e comprometendo a agricultura. Os produtos agrícolas desta região não puderam ser consumidos e o prejuízo econômico foi enorme. Este mesmo selênio contaminou a carne de ovelhas que pastaram na região, tornando esta carne imprópria ao consumo humano.


“O fosfato produzido na mineradora de Anitápolis irá abastecer de fertilizantes as monoculturas de soja e milho dos grandes plantadores, trazendo lucros a poucos em detrimento de muitos que ingressam na miséria ano após ano, vindo a aumentar os cordões da miséria em grandes centros.”

F
ernando e Chris: Geralmente é utilizado o expediente na defesa da empresa a idéia de que ela vai gerar empregos. É possível acreditar nesse pobre argumento?
Jorge Albuquerque: Pelo EIA-RIMA da empresa, os empregos serão para trabalhadores específicos, de fora da região, portanto não auxiliarão a comunidade com empregos diretos. Mesmo considerando que estas pessoas possam trazer mais empregos indiretos a comunidade, o custo dos danos ambientais e a saúde pública serão maiores que os ganhos em empregos, fora a destruição irreversível da área da mineração, que, mesmo após o encerramento de suas atividades não poderá ser utilizada na agricultura nem para qualquer outra atividade.

Fernando e Chris: A região é de grande importância ambiental. Pode dar exemplos dessa riqueza natural?
Jorge Albuquerque: A região de Anitápolis é uma das regiões mais importantes em termos de conservação dos recursos paisagísticos e de biodiversidade no sul do Brasil, pois se encontra em um corredor ecológico unindo a Serra Geral e a do Tabuleiro. Espécies raras como a Canela Preta, o Gavião Real-falso podem ser encontrados no Rio do Pinheiro. Anfíbios muito raros foram registrados na área pretendida pelo empreendedor.

Fernando e Chris: Em que situação se encontra o processo da criação dessa mineradora?
Jorge Albuquerque: Não tenho conhecimento sobre isso, mas creio que deva estar em pleno vapor na direção da obtenção de sua licença ambiental, pois o lobby governamental para isso é intenso e eficiente, mas não creio que seja mais eficiente que a força do cidadão consciente.

Fernando e Chris: Se fosse possível dar um recado sobre esse assunto a cada um dos moradores da região, o que diria?
Jorge Albuquerque: Amigos, vocês vivem em uma região riquíssima. A agricultura familiar poderia ser melhor explorada e gerar mais dividendos, empregos e recursos a região. A idéia apresentada pelo governo do estado através de seu Projeto Anitápolis é realmente tentadora, mas veja da seguinte forma: Pelo projeto da mineradora, a exploração da jazida de fosfato no Rio do Pinheiro terá a duração de 33 anos. Após esta data, a serra do Pinheiro estará em ruínas e a região seriamente devastada. Considerando a possibilidade de desastres ambientais como o ocorrido em Muriaé, as perspectivas não são nada boas.
Imaginem que suas crianças e vocês mesmos e outros moradores da região estarão expostos aos efeitos nocivos e não declarados pela empresa, mas presentes nos relatórios internacionais sobre danos ao ambiente e a saúde causados pela mineração.
É necessário diversificar e buscar mais ajuda na melhora da produção da agricultura familiar.
Não se deixem levar pela sedução dos governantes, estes duram 4 anos e suas vidas e as de seus familiares duram muito mais que isso.

Mais informações acesse: www.mataatlanticasc.blogspot.com